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Mafalda Orlandini
A ilusão de um piso encantado
Nesta semana, li no Correio do Povo um texto do jornalista Roberto Fissmer. Não poderia ser mais feliz no seu comentário: Piso: o sonho acabou? É justamente o filme que eu vejo e revejo há cinquenta anos, desde que assumi a minha profissão, o Magistério. O comentarista é muito preciso ao analisar o motivo dos anos de tramitação de um projeto que todos achavam justíssimo, mas que dificilmente seria pago. Ninguém queria o ônus político de votar contra e foram “jogando com a barriga”, enquanto os iludidos iam fazendo promessas para todos os Santos e rezando. Desde 1964, eu acompanho esse sonho agitado por muitas e muitas greves. Entretanto, agora, há greves demoradas em vários estados, parece que a paciência esgotou. Inclusive, houve episódios de violência em Curitiba
Conflito entre professores e policiais militares em Curitiba.
Fiz meu primeiro Concurso para as classes iniciais no governo de Leonel Brizola. Eram os primeiros que se realizavam no Estado depois de muitos anos. Meu marido participou também, mas para o nível médio. Morreu sem ser nomeado. Fui lecionar em Vila Nova. Não havia ainda o tão discutido plano de carreira e eu fiquei um ano sem receber por motivos burocráticos. Dois anos depois, eu já era viúva e consegui um contrato em Cachoeirinha. Convenceram-me (tenho dúvidas até hoje) de que os dois cargos eram incompatíveis e pedi exoneração para ganhar uns trocados a mais e trabalhar horas a menos. Com os colegas de Cachoeirinha, fiz em Osório mais dois Concursos, então para lecionar nas outras séries do Curso Primário e o Segundo Grau. Aí já existia o discutido Plano de Carreira do Magistério Gaúcho. E as nomeações saíram de acordo com a classificação.
Cidade de Osório vista do Morro da Borússia.
No final da década de 70, voltar sozinha pela Free Way, às 11 horas da noite, já era temerário e eu pedi minha transferência para Porto Alegre. É dessa época que as greves começaram a ser frequentes. Foram tantas que eu perdi a conta. Mas, na realidade, só participei como grevista ativa de uma. Incentivada pelas colegas do Santos Dummond, fui a uma Assembleia no Gigantinho, depois acampar na Praça da Matriz e bater uma sineta que guardo até hoje. Nas outras greves, sempre fiquei de castigo. Eu era vice-diretora e ficava na Escola de plantão. Para quê? Manter a Escola aberta, abrir o livro-ponto para os professores que quisessem trabalhar e ficar torcendo para que logo tudo acabasse. E era para riscar o ponto dos ausentes. Não me lembro de tê-lo feito. Mesmo porque foram sempre negociados ao fim das greves. O mais difícil era convencer os pais inconformados de que os dias seriam recuperados e os alunos não seriam prejudicados.
Colegas do Santos Dummond. A Eloisa e a Cléia já faleceram esperando pelo piso.
Como professora, sei que as greves são só ilusão, só estresse. Nunca irão resolver o que não querem resolver. É tensão e sofrimento para os que reivindicam e para os que dizem NÂO. Há desentendimento entre os próprios professores, discussões que podem romper amizades de anos, principalmente, quando envolvem política. Convivi com muitos professores, inclusive, uma cunhada e um cunhado que adoeciam de tanta revolta. Eles não moravam em Porto Alegre, não liam jornais e me cobravam notícias. O marido de minha cunhada era militar e, quando ela não entendia o que eu informava, ela passava o fone para ele que vinha discutir comigo. Como se eu fosse culpada, meio alterado. É lei, eles têm que pagar, falava zangado. Como muitos professores que eu conheci, lembro três que morreram esperando o piso encantado. Será que eu aguento mais um pouco?
Renato Janine Ribeiro, atual Ministro de Educação
Com o novo Ministro de Educação, eu teimo em criar novas esperanças. Não sei se sonhei ou li nas suas declarações. Afirma que suas prioridades são as crianças em escolas em tempo integral para que mães possam trabalhar em paz, qualificação dos professores e salários dignos para os mestres. Seria a glória! Começar do princípio, do indiscutível que também é o certo. A nova geração terá sabedoria para salvar o Brasil, torná-lo justo, feliz e colocá-lo entre os países do Primeiro Mundo.
Mafalda Orlandini é professora de português e literatura aposentada. Lecionou nos colégios: Nossa Senhora do Rosário (Porto Alegre), Vera Cruz (Porto Alegre), Nossa Senhora dos Anjos (Gravataí), E.E. Presidente Kennedy (Cachoeirinha), E.E. Santos Dumont (Porto Alegre) e no Curso Pré-Universitário (Porto Alegre) onde ministrava aulas sobre redação.
Durante muitos anos fez parte da banca de correções de redação nos vestibulares da PUC-RS.
E-mail: mafalda.orlandini@hotmail.com
Facebook: http://www.facebook.com/mafalda.orlandini
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