Últimas notícias
Colunistas
RSS
Fábio B. Salvador
Sobre os perigos de se eleger postes
Ciro Gomes não foi ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC prestar solidariedade a Lula. A atitude foi recebida com indignação por muitos petistas – afinal, o novo “pai dos pobres” carregou o ex-ministro nos braços como a um filho. “Quanta ingratidão”, bradam, esquecendo que, depois de viabilizar e incensar Ciro, Luis Inácio o escanteou, colocando Dilma na reta para a Presidência.
O que foi uma burrice, claro: se o senhor Gomes fosse hoje o presidente do Brasil, muito provavelmente não teríamos passado pelo impeachment, e é bem provável que essa epopéia da prisão jamais acontecesse.
Acontece que Lula elegeu um poste.
Não quero aqui ser desrespeitoso com a ex-presidenta que, com certeza, tem seus méritos e áreas de competência (ou não teria chegado até onde chegou), mas a atuação política “linha de frente” com certeza não é um de seus dotes. Ela discursa mal, articula mal, transita mal.
Dilma, no começo do primeiro governo, ensaiou uma tentativa de firmar-se como uma figura política de vida própria. Não deu certo, e Lula e sua turma acabaram encarregados de reconstruir as pontes com a base, os parlamentares, a militância e os movimentos.
Ao escolher como sucessora alguém cujo brilho jamais deixasse de ser mero reflexo do seu, o ex-presidente garantiu a permanência de sua figura sob os holofotes. Mas deixou um flanco aberto. Bastou uma ofensiva bem articulada dos adversários para demonstrar isso.
Um Dutra para chamar de seu
Eleger postes não é, nem de longe, uma má estratégia. Ela funciona muito bem em ambientes menores, como prefeituras de interior. Há cidades nas quais um mesmo prefeito governa, de fato, por décadas, alternando o próprio nome nas urnas com o de aliados sem brilho, que no governo acabam servindo mais como “avatares” do verdadeiro chefe.
O problema é que, quando caem, os postes costumam tombar por cima de quem os instalou.
Paulo Maluf, por exemplo, após passar décadas com a fama de “rouba, mas faz” sem ser tocado, começou a viver um processo de desabamento político com as trapalhadas e o rompimento com Celso Pitta, plantado por ele na Prefeitura de São Paulo.
Getúlio Vargas talvez tenha sido o único caso, até hoje, de uma manobra bem-sucedida envolvendo um poste presidencial: ao ajudar Eurico Gaspar Dutra nas eleições de 1945, o “pai dos pobres” original certamente sabia da lentidão de raciocínio, das dificuldades de fala e da falta absoluta de jogo de cintura do general. O fracasso (de público e crítica) do governo Dutra ajudou a volta do próprio Vargas à Presidência em 1950.
Talvez, ao escolher Dilma ao invés de Ciro em 2010, Lula tenha visto nela um novo Dutra – completo, com a dificuldade para discursar e tudo – um Dutra para chamar de seu. Só não calculou que os Carlos Lacerdas atuais fossem tantos, tão unidos e tão fortes.
Site: www.fabiosalvador.com.br
Youtube: www.youtube.com/fabiosalvador
Opinião do internauta
colunas anteriores
- 11.12.2018O capitalista comunista
- 04.12.2018Crônica de quatro falidos
- 24.09.2018Temer deveria ser homenageado... pelo PT
- 09.04.2018O cálculo por trás da rendição do Lula
- 06.04.2018Por que a imprensa descobriu agora o general Schroeder Lessa?
- 22.03.2018E se o Lula for preso?
- 03.10.2017Uber: vamos falar sobre liberdade?
- 26.09.2017A vida fora do Facebook (um experimento)
- 19.09.2017A multidão que não pensa nem deixa pensar
- 12.09.2017Os crimes homofóbicos no Brasil são uma farsa?
- 05.09.2017Dário Di Martino, o profeta esquecido do anticomunismo
- 22.08.2017A nova invasão bárbara
- 15.08.2017Relevância é a palavra do momento
- 08.08.2017Resposta de um burocrata a Ives Gandra e Percival Puggina
- 12.07.2016Uma nota sobre o antissemitismo
- 17.03.2016Sobre mares e navios
- 08.03.2016Somos cada vez mais rádios dessintonizados
- 18.02.2016No fundo, queremos acreditar na esperança de salvar a civilização ocidental
- 02.02.2016A rua mais bonita do mundo, e a raça mais imbecil do universo
- 29.01.2016Todo mundo precisa ter um horizonte positivo para perseguir
- 26.01.2016Viagem à Ilha de Bundas e ao Arquipélago das Bananas
- 22.01.2016Por quê artistas malucos como Júpiter Maçã nos fascinam tanto
- 13.01.2016Sobre a volta da formação original do Guns n Roses
- 27.12.2015As redes sociais vão matar a internet
- 20.12.2015A Turma do Pouquinho
- 13.12.2015O que significa a renovação da concessão da Ceee?
- 06.12.2015O que podemos aprender com o caso Jardel
Colunas Relacionadas
- 22.03.2018E se o Lula for preso?
- 02.04.2018Amigos Para Sempre
- 06.04.2018Por que a imprensa descobriu agora o general Schroeder Lessa?
- 09.04.2018O cálculo por trás da rendição do Lula
- 16.07.2018Meus Amigos Cronistas
- 30.07.2018Meus Amigos Cronistas II
- 27.08.2018Emoções
- 24.09.2018Temer deveria ser homenageado... pelo PT
- 24.09.2018O Prazer de Escrever
- 01.10.2018O Casarão Vivo
- 15.10.2018Mais Casarão
- 22.10.2018Ainda o Casarão da Família Orlandini
- 05.11.2018E os netos foram chegando.
- 04.12.2018Crônica de quatro falidos
- 11.12.2018O capitalista comunista
- 17.12.2018A vida que eu vivi.
- 23.01.2017De repente 87
- 20.02.2017Vivendo no Limite
- 08.08.2017Resposta de um burocrata a Ives Gandra e Percival Puggina
- 15.08.2017Relevância é a palavra do momento