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James M. Dressler
Punido
O tabu permanece: o Rio Grande do Sul jamais reelegeu um governador desde o fim da ditadura de 1964. Mais uma vez, o atual governador foi derrotado nas urnas, não conseguindo a reeleição. A novidade é que, desta vez, a margem voltou a ser muito pequena, um pouco maior que a de 1998, quando Olívio Dutra venceu Antônio Britto por uma diferença de 1,5 pontos percentuais.
Mas por que os governadores não se reelegem por aqui? Minha explicação, baseada apenas na pura observação e por estar rodeado de funcionários públicos na minha família, que por sua vez tem outros tantos amigos também trabalhando para o Estado, é a insatisfação deles para com o governo de plantão.
O funcionalismo no Rio Grande do Sul é grande parte do eleitorado. Só de professores são mais de 60 mil. Somando todas as funções, chegamos perto de 200 mil funcionários. Multiplique-se isso no mínimo por três, por causa dos familiares, e chegamos a uma possível massa de 600 mil eleitores. É muita gente. A diferença entre Leite e Sartori, neste segundo turno para governador do RS, foi de pouco mais de 400 mil votos.
A insatisfação do momento, justificada, para com o governo Sartori, é o parcelamento de salários. Isso com certeza enfureceu o funcionalismo. Pouco importa que não houvesse dinheiro, resultado de sucessivos governos perdulários, (excetuando-se o de Yeda Crusius), com ênfase no anterior, de Tarso Genro. Sartori foi punido pelo funcionalismo, que em massa votou no seu opositor, apesar do mesmo ter sido aliado praticamente durante todo o mandato do atual governador, e mais do que isso, prometer praticamente uma continuidade das mesmas políticas de Sartori. Nesta eleição, não estava se optando por uma mudança de rumo, e sim apenas punindo Sartori, mesmo sabendo que o próximo governador não prometa grandes mudanças, apenas uma esperança de que as coisas melhorem no futuro, o que também seria perfeitamente factível se Sartori continuasse.
Alguém poderia argumentar que punição não teria sido o caso nas eleições anteriores. É que cada caso é um caso e suas circunstâncias, a expectativa e o efetivamente entregue pelo governador. Assim, Tarso não foi reeleito porque o funcionalismo esperava muito dele, o “outro mundo melhor possível”, de aumentos desenfreados, equiparações diversas, recuperação de atrasados, ampliação de vantagens e direitos, etc., tão ao gosto do funcionalismo. Ciente de que, apesar de tudo, não era possível entregar o sonho, Tarso deu aumentos além do que poderia, que Sartori acabou tendo que pagar. Entretanto, não foi o suficiente para aplacar a sede do funcionalismo, que acabou punindo-o por isso. O mesmo aconteceu em governos anteriores. Para se reeleger, um governador gaúcho tem que exceder as expectativas deste enorme contingente de eleitores, os funcionários públicos. Caso contrário, dificilmente obterá outro mandato.
Já prevejo um início muito difícil para Eduardo Leite. As folhas de pagamento começam a se aproximar e já há o perigo da folha do mês não ser paga no mês subsequente integralmente, coisa que ainda não havia acontecido no governo Sartori. Mas a situação financeira só se agravará, e é provável que já em novembro ou dezembro isso aconteça.
O novo governador terá que fazer milagre, ou ser bafejado pela sorte com um grande crescimento econômico capitaneado pelo governo federal, que aumente substancialmente as receitas estaduais e alivie as contas gaúchas.
Caso contrário, prevejo o mesmo destino de seus antecessores para Leite: punição na próxima eleição.
James Masi Dressler é formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e pós-graduado em Ciência da Computação pela mesma universidade.
e-mail: jamesmdr@gmail.com
Twitter: @jamesmdr
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