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James M. Dressler
França
Ano passado, a França, por ampla maioria, elegeu Emmanuel Macron presidente. Foram 66% dos votos para o jovem presidente, que prometia reformas de cunho liberal associadas com a manutenção do estado de bem-estar social, que é característica da política do país. Hoje, Macron, que já teve 65% de aprovação, amarga uma popularidade de apenas 25%, e em queda. Então, o que deu errado?
O problema começa com a ideia de que sempre serão os outros que irão pagar a conta do próprio bem-estar, os mais ricos, as grandes empresas, e quem quer que tenha um ganho acima da média. Mesmo que não sejam muitos, e que dividindo o que lhes for tirado com impostos mais altos não seja suficiente para custear nem um centésimo do que seria necessário para manter o bem-estar social, ninguém das classes com menos condições econômicas aceita bem que seu bolso também seja atacado, independentemente de já haver impostos altos demais sobre quem ganha mais. Foi o caso do imposto sobre o diesel imposto por Macron, combustível mais usado pelos franceses, que atingiu a todos indistintamente, causando indignação geral. Este foi o estopim, mas não é a causa, que é mais complexa.
A social democracia surgiu prometendo entregar um estado benevolente, que dá aos cidadãos um sem número de direitos, ao mesmo tempo em que “controla” o mercado para evitar que haja muita “desigualdade”. Esses direitos, crescentes, afinal é sempre preciso “avançar” a agenda “progressista”, e o controle cada vez maior do mercado, associado a taxações cada vez maiores dos agentes econômicos, afinal, alguém precisar dar o dinheiro para custear as despesas que não param de crescer, resultam inevitavelmente em estagnação econômica. Só para ter uma ideia, na última década, o PIB da França, em média, cresceu menos que 2% ao ano. No mesmo período, o desemprego também seguiu numa taxa relativamente alta, em torno de 10%, decorrente desta estagnação que não gera novos empregos para absorver quem entra no mercado de trabalho. Não colabora para melhorar o quadro aceitar indiscriminadamente imigrantes despreparados para viver na sociedade francesa, que na sua grande maioria passarão a ter direitos e aumentar as despesas já nas alturas do estado francês, sem colaborar significativamente (se tanto) para o aumento do PIB.
Infelizmente, a educada população francesa não é esclarecida o suficiente para entender isso. E acaba se manifestando, até violentamente, para pedir mais do que já os levou à crise, ou seja, um recrudescimento das políticas sociais-democratas: mais direitos, maiores salários e menos impostos (para nós que protestamos) e mais impostos (para os outros), o que perpetuará a estagnação econômica e agravará a crise com o passar do tempo.
Enquanto Macron não diminuir direitos e impostos sobre pessoas físicas e jurídicas, ficará preso neste círculo vicioso. A máquina pública precisa ser reformada e enxugada. O problema é se ele terá força política para fazê-lo. O tempo dirá. Pelo recuo no aumento da taxação do diesel, parece que não. Se somarmos a este saldo negativo as novas manifestações já agendadas (por um sem número de motivos) para as próximas semanas, o quadro tende a piorar rapidamente.
Fica o alerta para o Brasil e Bolsonaro. A coisa não é muito diferente por aqui. Sim, aqui tudo é muito mais precário, mas também somos muito mais pobres. A relação entre direitos e riqueza do país não é muito diferente da França. Talvez pior.
Reformas aqui no Brasil também são urgentes, a começar pela da Previdência, a atual maior despesa brasileira, e ela não pode ser branda, a esta altura do campeonato. Não estamos mais em 2003.
James Masi Dressler é formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e pós-graduado em Ciência da Computação pela mesma universidade.
e-mail: jamesmdr@gmail.com
Twitter: @jamesmdr
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