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06 de fevereiro de 1903.

Pogrom de Kishinev: Michael Ribalenko, foi encontrado morto na cidade de Dubossary (hoje Dubasari), a cerca de 35 quilômetros a norte de Chisinau

Obra de Emil Flohri (1869-1938). Parem com a cruel opressão aos judeus, de 1904.

Pogrom é um ataque violento maciço a pessoas, com a destruição simultânea do seu ambiente (casas, negócios, centros religiosos). Historicamente, o termo tem sido usado para denominar atos em massa de violência, espontânea ou premeditada, contra judeus, protestantes, eslavos e outras minorias étnicas da Europa, porém é aplicável a outros casos, a envolver países e povos do mundo inteiro.

Pogrom de Kishinev

Durante o séc. XIX, Kishinev era a capital da Bessarábia. Atualmente é a capital da República da Moldávia, parte da ex-União Soviética. Sob o domínio russo, a cidade tornara-se um ativo centro comercial e industrial, atraindo judeus de outras partes da Rússia, em busca de oportunidades e trabalho.

Apesar de todas as restrições econômicas impostas em finais do séc. XIX, a comunidade judaica de Kishinev florescera. Calcula-se que, em 1903, aproximadamente 60.000 judeus vivessem em Kishinev. Havia 16 escolas judaicas, com 2.100 alunos, e 70 sinagogas. Mas os trágicos eventos que ocorreram na Páscoa de 1903, nessa cidade, mudaram para sempre a vida deles.

Reinava, à época, uma grande tensão na Rússia e, na tentativa de aliviá-la, o governo czarista tentou dirigir as atenções da população contra os judeus. Como nas ocorrências anteriores, acredita-se que agentes do Ministério do Interior e funcionários do alto escalão do governo estivessem envolvidos na organização do primeiro pogrom do século XX.

Em fevereiro de 1903 foi encontrado morto, em Kishinev, um menino cristão, Michael Ribalenko. Embora fosse evidente que o menino havia sido morto por um parente – como foi mais tarde provado – espalhou-se na cidade o boato de que fora assassinado pelos judeus. Segundo algumas fontes, o chefe da polícia local teria sido o autor do boato. De qualquer modo, teve importante participação no desenrolar dos acontecimentos.

Durante meses, uma campanha anti-semita orquestrada pelo diretor do jornal Bessarabets incitava continuamente a população contra os judeus. A cidade fervia de ódio quando outro acontecimento foi o estopim para o início da violência. Uma jovem cristã, paciente do Hospital Israelita de Kishinev, cometeu suicídio. Mais uma vez o jornal Bessarabets imputou aos judeus a culpa por essa morte. (Tempos depois encontrou-se o verdadeiro assassino do menino Michael, assim como também provou-se que a morte da mulher nada tinha a ver com os judeus. Mas isto só veio a público após a violência ter tomado conta da cidade).

Na véspera da Páscoa, em 6 de abril de 1903, turbas enfurecidas assaltaram Kishinev. Os judeus tentaram inutilmente apelar às autoridades locais. Sabiam que estas poderiam conter imediatamente a violência pois havia 5 mil soldados estacionados na cidade. Mas o vice-governador se recusou a intervir, afirmando que só poderia tomar qualquer medida se recebesse ordens diretas do Ministro do Interior. Acredita-se que o próprio vice-governador fosse um dos incentivadores do pogrom e que o ministro do Interior lhe dera ordens de não parar a violência. Quando “as instruções” finalmente chegaram e as tropas foram enviadas às ruas, sua presença bastou para acabar com os desmandos.

O pogrom durou três dias, deixando em seu rastro consequências estarrecedoras: 45 judeus morreram e 700 ficaram feridos, 92 dos quais em estado grave. Mulheres e crianças sofreram violências brutas. De acordo com os dados oficiais, mais de 800 casas foram pilhadas e destruídas, 2.000 famílias ficaram sem teto e 600 lojas foram saqueadas. Embora pareça que a reação dos judeus foi de total passividade, sabe-se que houve tentativas de autodefesa. Todas, porém, fracassaram. As autoridades, ao invés de parar a violência, desarmaram os poucos judeus que resistiam.

O pogrom de Kishinev recebeu muita atenção internacional. O The New York Times escreveu, na ocasião:

“É impossível contabilizar-se a quantidade enorme de propriedades destruídas em poucas horas. Os aplausos ao tumulto desenfreado. Os gritos lancinantes das vítimas tomando conta do espaço. Onde quer que se encontrasse um judeu, ele era selvagemente espancado até desfalecer. Um deles foi arrastado de um bonde e espancado até que a turba pensasse tê-lo matado. O ar estava tomado por penas e roupa de cama estraçalhadas. Todos os lares judeus foram invadidos e seus infelizes moradores, aterrorizados, tentavam esconder-se nos porões e sob os telhados. O populacho não poupou nem a sinagoga e, profanando a mais importante casa de orações, violou os Pergaminhos da Lei. A conduta dos inteligentes cristãos foi vergonhosa. Não fizeram tentativa alguma de conter o desvario. Simplesmente ficaram a olhar e a desfrutar da brincadeira ignominiosa. No terceiro dia, quando foi divulgado que as tropas tinham recebido ordens de atirar, os baderneiros contiveram-se. Apesar do clamor mundial, apenas dois indivíduos foram sentenciados, com penas de cinco e sete anos, enquanto vinte e dois outros receberam penas de um e dois anos”.

Os impactos do pogrom

O primeiro pogrom do século XX teve um grande impacto não apenas no mundo judaico – abalando os judeus dentro e fora da Rússia – mas provocou, também, a ira do mundo civilizado que se voltou contra a Rússia czarista. Intelectuais russos, como Tolstoi e Gorki, manifestaram abertamente sua repulsa, declarando que a sociedade inteira era tão culpada da desgraça e dos horrores de Kishinev quanto os próprios assassinos.

Os judeus, chocados com os acontecimentos, reagiram de várias formas. As organizações judaicas internacionais se movimentaram rapidamente para levar ajuda às vítimas. Um importante manifesto contra a passividade judaica foi redigido por Ahad Ha-Am e assinado por escritores como H. C. Bialik, Simon Dubnow, Mordecai Ben-Ami. O manifesto afirmava que era “degradante ver 5 milhões de pessoas oferecendo o seu pescoço para serem abatidas como gado, sem ao menos tentar defender sua vida com suas próprias mãos”. O escritor Chaim Nachman Bialik, enviado à cidade pelo Congresso Judaico de Odessa para verificar o que ocorrera, escreveu um poema que provocou uma profunda reação. Em “Na cidade da matança”, Bialik protesta amargamente contra os “filhos dos macabeus,... que se esconderam e silenciosamente assistiram suas mães, esposas e filhas serem violentadas”.

Em resposta aos ataques, foram formados grupos judaicos de auto-defesa, organizados por operários, estudantes, membros do Bund e de outros grupos sionistas. O pogrom de Kishinev provocou o fortalecimento das aspirações sionistas no seio da comunidade judaica russa. A difícil situação do judaísmo russo, que Herzl testemunhou pessoalmente durante sua visita à região, causou-lhe tamanha preocupação que no 6º Congresso Sionista (1903) propôs o plano britânico de usar Uganda como um refúgio temporário para os judeus da Rússia.

A brutalidade dos acontecimentos foi de tal magnitude que milhares de judeus que viviam sob o jugo do czar decidiram abandonar o leste Europeu. Muitos foram para os Estados Unidos, onde criaram vibrantes comunidades e puderam desenvolver o seu talento e a sua criatividade. E muitos outros foram para Eretz Israel, criando um importante núcleo que daria origem ao futuro Estado de Israel, soberano entre as nações.

Apesar de ser claro que o rapaz tinha sido morto por um familiar (que foi mais tarde encontrado), o jornal anti-semita Bessarabetz, cujo editor era Pavolachi Krusheven, insinuou que ele tinha sido morto pelos judeus. Outro jornal, Svet, usou o velho argumento do libelo do sangue contra os judeus (acusação de que o rapaz tinha sido morto pelos judeus que queriam usar o seu sangue para preparar matzo - pão ázimo).

O pogrom de Kishinev estendeu-se por três dias de violência contra os judeus. 47 (em algumas fontes 49) judeus foram mortos, 92 feridos seriamente, quinhentos feridos ligeiramente e mais de setecentas casas foram pilhadas ou destruídas. Vyacheslav von Plehve, o ministro do Interior, terá supostamente dado ordens aos desordeiros para continuarem com a violência, mas em qualquer caso, a verdade é que a polícia e os militares assistiram impávidos até ao terceiro dia.


Obra de Emil Flohri (1869-1938). Parem com a cruel opressão aos judeus, de 1904.

Fonte: Wikipédia


Tags: Pogrom, judeu, perseguição, Pogrom de Kishinev






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