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02 de março de 1939.

O cardeal Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli é eleito papa e toma o nome de Pio XII. A sua ação durante a Segunda Guerra Mundial tem sido alvo de debate e polêmica

Venerável Pio XII, 260º Papa da Igreja Católica

Venerável Papa Pio XII, (em italiano: Pio XII, em latim: Pius PP. XII); O.P., nascido Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli; (Roma, 2 de março de 1876 — Castelgandolfo, 9 de outubro de 1958) foi o 260º Papa da Igreja Católica Apostólica Romana eleito em 2 de março de 1939, como sucessor do Papa Pio XI. Foi entronizado a 12 de março de 1939. Faleceu em 9 de outubro de 1958. Foi o primeiro Papa Romano desde 1724.

Foi o único Papa do século XX a exercer o Magistério Extraordinário da Infalibilidade papal – invocado por Pio IX – quando definiu o dogma da Assunção de Maria em 1950 na sua encíclica Munificentissimus Deus. Ao todo criou 57 cardeais em dois consistórios.

O Conclave de 1939

Em 2 de março de 1939, quando já se podia antever a nova conflagração mundial, no dia de seu 63.º aniversário, na terceira votação, Pacelli tornou-se o primeiro Secretário de Estado, desde o Papa Clemente IX em 1667, a ser eleito Papa; escolheu o nome de Pio XII, na continuidade do pontificado precedente, Pacelli foi ainda o primeiro Camerlengo desde Leão XIII em 1878, o primeiro membro da Cúria desde o Papa Gregório XVI (1831), e o primeiro romano desde o Papa Clemente X em 1670 a ser eleito papa.

Pontificado
Mit brennender Sorg

Entre 1933 e 1939 , Pacelli emitiu 55 protestos de violações do Reichskonkordat (1933). Mais notavelmente, no início de 1937, Pacelli pediu a vários cardeais alemães, incluindo o Cardeal Michael von Faulhaber que o auxiliassem na redação de um protesto contra as violações nazistas do Reichskonkordat , o que viria a se tornar em 1937 na encíclica de Pio XI conhecida como Mit brennender Sorge.


Pacelli (futuro Papa Pio XII - sentado, centro) na assinatura do Reichskonkordat em 20 de julho de 1933 em Roma com: (da esquerda para a direita): o prelado alemão Ludwig Kaas, o vice-chanceler alemão Franz von Papen, o secretário de Assuntos Eclesiásticos Extraordinários Giuseppe Pizzardo, Alfredo Ottaviani, e o ministro do Reich, Rudolf Buttmann.

A encíclica foi escrita em língua alemã e não em latim, língua dos documentos habituais e oficiais da Igreja Católica Romana. Secretamente distribuída por um exército de motociclistas foi lida em cada púlpito da Igreja Católica alemã no Domingo de Ramos a 21 de março de 1937, nele condenou o paganismo e a ideologia do nacional-socialismo. Pio XI creditava a sua criação e redação a Pacelli, futuro Papa Pio XII. Foi a primeira denúncia oficial do nazismo feita por qualquer grande organização e resultou em perseguição da Igreja pelos nazistas enfurecidos que fecharam todas as gráficas que participaram da impressão do documento e "tomaram inúmeras medidas vingativas contra a Igreja, incluindo a realização de uma longa série de ensaios imoralidade do clero católico." Em 10 de junho de 1941, o papa comentou sobre os problemas do Reichskonkordat em uma carta ao bispo de Passau, na Baviera: "A história do Reichskonkordat mostra que o outro lado não tinha os pré-requisitos mais básicos para aceitar as liberdades e os direitos mínimos da Igreja, sem os quais a Igreja simplesmente não pode viver e operar."


Texto da Encíclica Mit brennender Sorge publicada pelo Bispo Ludwig, de Speyer, em 17 de março de 1937.

O esforço pela paz

Nomeou seu Secretário de Estado o cardeal Luigi Maglione, antigo núncio em Paris. Evitar a guerra a todo custo foi a sua primeira preocupação. Pode-se dizer que Pio XII foi um dos principais protagonistas daqueles dias tão carregados de tragédia, porque procurou, com todas as suas forças, evitar a guerra. Tendo adquirido uma grande experiência diplomática, tem ciência de que o espera um dos mais agitados períodos da história.

Na sua primeira intervenção radiofônica com a mensagem Dum gravissimum, em 3 de março de 1939, manifesta preocupação pelo quanto se temia então: "Nestas ansiosas horas, enquanto muitas dificuldades parecem se opor à realização da verdadeira paz, que é a mais profunda aspiração de todos, levamos nossa súplica a Deus, uma oração especial por todos aqueles que têm a maior honra e o enorme peso de guiar o povo no caminho da prosperidade e do progresso civil." Em maio envia, sem sucesso, aos governos do Reino Unido, França, Polônia, Alemanha e Itália uma proposta para resolver, mediante uma reunião conjunta, os problemas inerentes à comprometida estabilidade política.

Dirigiu por rádio um novo apelo à paz no mundo: Iminente é o perigo, mas ainda é tempo. Nada é perdido com a paz. Tudo pode ser [perdido] com a guerra, era o seu brado naquela mensagem de rádio profética de 24 de agosto de 1939, a uma semana do início do conflito.

Em 20 de outubro de 1939 publica a sua primeira encíclica: Summi Pontificatus, em que exprime a sua angústia pelo sofrimento que cai sobre os indivíduos, famílias e toda a sociedade. Diz que a "hora das trevas" caiu sobre a humanidade, convida a todos a orar "para que a tempestade se acalme e sejam banidos os espíritos de discórdia que levaram a tão sangrento conflito". Recorre com frequência ao meio radiofônico para promover as suas mensagens, o mais moderno meio de comunicação de massa na época, são perto de duzentas mensagens radiodifundidas e dirigidas ao mundo em várias línguas, além de seus escritos.

Na noite de Natal de 1942, condenou a perseguição judia na sua famosa alocução de Natal. Igualmente, em 1943 pronunciou um importante discurso aos cardeais, em que reafirmou a sua condenação da política alemã. Como Bispo de Roma entrou em pessoa, em julho e agosto de 1943, nos populosos bairros de São Lourenço e São Giovanni para trazer conforto para as vítimas dos bombardeamentos anglo-americanos.

Quando, em 10 de setembro de 1943 os nazistas invadiram Roma, o Papa abriu a Santa Sé aos refugiados, estimando-se que tenha concedido a cidadania do Vaticano a entre 800.000 e 1.500.000 de pessoas, e nos meses em que Roma se encontrava sob ocupação alemã, Pio XII instruiu o clero italiano sobre como salvar vidas usando de todos os meios possíveis. Cento e cinquenta e cinco conventos e mosteiros em Roma deram asilo a aproximadamente cinco mil judeus. Pelo menos três mil encontraram refúgio na residência de verão do pontífice, em Castel Gandolfo. Sessenta judeus viveram por nove meses dentro da Universidade Gregoriana e muitos foram escondidos no subsolo do Pontifício Instituto Bíblico. Seguindo as instruções de Pio XII, muitos padres, monges, freiras, cardeais e bispos italianos empenharam-se para salvar milhares de vidas judias. O cardeal Boetto, de Gênova, salvou pelo menos oitocentas vidas. O bispo de Assis escondeu trezentos judeus por mais de dois anos. O bispo de Campagna e dois de seus parentes salvaram outros 961 em Fiume.

Adolf Hitler ameaçou sequestrar Pio XII. O general Karl Otto Wolff, das SS, recebeu ordem para ocupar o mais rapidamente possível o Vaticano, garantir a segurança dos arquivos e dos tesouros artísticos, e "transferir" (ou seja, sequestrar) o Papa, juntamente com a Cúria, para que não caíssem nas mãos dos Aliados e exercessem influência política. De acordo com historiadores, Hitler ordenou o sequestro porque ele tinha medo da possibilidade de Pio XII aumentar e agravar as suas críticas à perseguição judia levada a cabo pelos nazistas. Também temia que a oposição de Pio XII pudesse inspirar mais resistência e oposição à ocupação alemã na Itália e em outros países católicos. Nessa eventualidade, o Papa disse à Cúria que a sua captura pelos nazistas implicaria a sua resignação imediata, abrindo caminho à eleição de um sucessor. Os prelados teriam de se refugiar num país seguro e neutro, provavelmente Portugal, onde iriam restabelecer a liderança da Igreja Católica Romana e eleger um novo Papa.

Como consequência, e apesar do fato de Mussolini e dos fascistas terem cedido à exigência de Hitler de dar início às deportações também na Itália, muitos católicos italianos desobedeceram às ordens alemãs. É sabido que, enquanto cerca de 80% dos judeus europeus encontraram a morte durante a Segunda Guerra Mundial, 80% dos judeus italianos se salvaram.

Em 12 de março de 1944 profere a alocução Nella desolazione, dirigida aos "foragidos da guerra refugiados em Roma e aos habitantes da cidade reunidos na Praça de São Pedro" e em 2 de junho deste mesmo ano em outra alocução: È ormai passato, dirigida aos Cardeais repele mais uma vez a guerra. Em 29 de novembro de 1945 recebe no Vaticano oitenta delegados de campos de concentração alemães que foram pessoalmente manifestar o seu agradecimento pela "generosidade demonstrada pelo Santo Padre para com eles durante o terrível período do nazi-fascismo".

Pós-guerra

Na sua radio-mensagem Ecco alfine de 9 de maio de 1945, Pio XII reafirma o que tanto já vinha repetindo, que "só a paz e a segurança imposta sob justiça podem garantir ao povo um ordenamento público conforme as exigências fundamentais da consciência humana e cristã".

Diante do crescimento do comunismo soviético denuncia a violência exercida contra os povos eslavos na alocução Nell’accogliere, de 5 de junho de 1945 e reage contra a perseguição religiosa exercida nessas regiões. Na Mensagem Ecce ego declinabo de 24 de dezembro de 1954 denuncia os males da Guerra Fria e na mensagem natalícia de 1955, Col cuore aperto, rejeita mais uma vez de modo expresso a doutrina do comunismo afirmando-a contrária à doutrina cristã e ao direito natural.

As eleições italianas de 1948

Em fins de 1947, a Assembleia Constituinte italiana havia concluído o texto de uma nova constituição que entraria em vigor em 1º de janeiro de 1948. Haviam sido convocadas eleições gerais para 18 de abril de 1948, comunistas e socialistas coligaram-se contra a Democracia Cristã liderada por Alcide De Gasperi. À vista do bloqueio de Berlim naquele ano, a guerra fria entre a Rússia e as democracias ocidentais e a perseguição religiosa por trás da "cortina de ferro" levaram Pio XII a declarar que "soara a hora capital da consciência cristã". Em suas palavras "toda a nação estava em plena transmutação dos tempos, que requeria por parte da Cabeça e dos membros da Cristandade, suma vigilância, incansável diligência e uma ação abnegada”.

Coerente com o magistério da Igreja que já condenava o marxismo como heresia desde antes do Papa Leão XIII e através da encíclica Rerum Novarum e de outros documentos pontifícios de seus sucessores, naquelas eleições prestou claro apoio a De Gasperi e à Democracia Cristã italiana que, afinal, saiu-se vitoriosa, e proibiu o clero católico de votar no PCI (Partito Communista D'Italia) o que, segundo seus críticos, seria mostra de seu viés conservador.

Na verdade, Pio XII se empenhara naquela eleição e com ele toda a Igreja Católica para garantir a vitória da Democracia Cristã na Itália e evitar que sucedesse na nascente democracia italiana o que vinha ocorrendo então, na denominada Cortina de Ferro. Em 1º de julho de 1949, ordenou a publicação do Decreto contra o Comunismo, que levou à excomunhão de católicos que defendiam abertamente o comunismo. Também condenou o comunismo em outras ocasiões, como por exemplo na Carta Apostólica de 29 de junho de 1956Dum maerenti animo - A Igreja perseguida na Europa do Leste” e na Carta Apostólica de 7 de julho de 1952 "Sacro vergente anno - Consagração da Rússia ao Coração Imaculado de Maria”.

Processo de Beatificação

Em 1965 o Papa Paulo VI deu início à causa da sua beatificação anunciando o fato durante o Concílio Vaticano II. No dia 8 de maio de 2007, a Congregação para a Causa dos Santos, à unanimidade, reconheceu que Pio XII praticou as virtudes teologais e as virtudes humanas em grau de heroísmo, submetendo a Papa Bento XVI a decisão de declará-lo Venerável, último estágio que antecede à declaração de beato. A Congregação revisou três mil páginas de documentos e testemunhos sobre a vida de Pio XII. Porém, em dezembro de 2007, Bento XVI determinou o estudo mais aprofundado de alguns documentos para o que criou uma comissão dentro da sua Secretaria de Estado, o que implica num retardamento na tramitação do processo.

Em 2008, Bento XVI, celebrando na Basílica de São Pedro os 50 anos da morte do servo de Deus Pio XII, exortou a rezar a fim de que continue felizmente a causa de beatificação.

No dia 19 de dezembro de 2009 o Papa Bento XVI proclamou-o "Venerável", ao promulgar o decreto que reconhece as virtudes heroicas do Servo de Deus Pio XII, um importante passo dentro do processo de beatificação, que fica aguardando somente a existência de um milagre realizado pela intercessão do Papa Pacelli.

Críticas, prós e contra

Seu papel durante a Segunda Guerra Mundial, no entanto, para vários de seus críticos é controverso. Por outro lado, o seu silêncio durante os primeiros anos da guerra foi reconhecido por muitos historiadores como útil para salvar inumeráveis vidas humanas.

Porém, apesar de ninguém considerar a Cúria Papal um exército, nem vê o papa como um general a quem se recorre para complicadas operações de salvamento e resgate, mas sim acredita ser a Igreja Católica uma força ética e uma reserva moral do Ocidente, de quem espera-se que aja em favor das vítimas justo nesses momentos terríveis. E ela teria se omitido, segundo os seus críticos. Tampouco se tem notícia de manifestações públicas ostensivas no mesmo sentido seja da Cruz Vermelha Internacional, seja de organizações judaicas americanas que não agiram diferentemente.

O que é geralmente aceite é que seguiu uma política neutra à semelhança do que o Papa Bento XV havia feito na Primeira Guerra Mundial. O principal argumento tinha duas razões: a condenação pública de Adolf Hitler e do nazismo trariam pouco ou nenhum benefício ao desenrolar da guerra, já que seria certamente censurada na Alemanha e desconhecida para os católicos alemães (embora já houvesse na década anterior à guerra declarações de que catolicismo e nazismo eram incompatíveis); segundo, isso poderia desencadear uma forte perseguição religiosa aos católicos alemães, cortando as rotas de fuga usadas por opositores do nazismo, judeus e ciganos.

Robert Kempner, referindo-se à sua própria experiência durante o processo de Nuremberg, afirmou em uma carta à redação, depois de o "Commentary" ter publicado um trecho do livro de Guenter Lewy em 1964: "Qualquer movimento de propaganda da Igreja Católica contra o Reich hitlerista não só teria sido um 'suicídio voluntário' (…) mas teria também acelerado a execução capital de um maior número de judeus e sacerdotes".

Segundo o diplomata e historiador judeu Pinchas Lapide, que foi cônsul em Milão, na sua obra "Three Popes and Jews" (Londres, 1967), "Pio XII, a Santa Sé, os núncios do Vaticano e toda a Igreja Católica teriam salvo de 700.000 a 850.000 hebreus da morte certa, no regime nazista."

Em 23 de dezembro de 1940 na revista "Time" Albert Einstein afirmava: "Somente a Igreja ousou opor-se à campanha de Hitler de suprimir a verdade. Nunca tive um interesse especial pela Igreja antes, mas agora sinto um grande afeto e admiração porque somente a Igreja teve a coragem e a força constante de estar da parte da verdade intelectual e da liberdade moral".

Por ocasião de sua morte o mundo prestou-lhe extraordinárias homenagens. Dwight D. Eisenhower, então presidente dos Estados Unidos declarou: "O mundo tornou-se mais pobre depois de sua morte". De sua parte a então ministra do Exterior de Israel e mais tarde primeira-ministra Golda Meir afirmou: "Nós choramos um grande servidor da paz" e, ainda, que na ocasião do "terrível martírio que se abateu sobre nosso povo, a voz do Papa se elevou em favor de suas vítimas." Certo é que o Papa desenvolveu na sombra uma forte campanha de apoio aos judeus, e os seus críticos, todavia, não perdoam o fato de ter mantido silêncio, ao não falar publicamente contra o nazismo durante a guerra, por temer represálias nazistas contra os católicos e os judeus.

Provas escritas de ordem direta de Pio XII para proteger os judeus foram encontradas no Memorial das Religiosas Agustinas do mosteiro romano "Dei Santissimi Quattro Coronati" onde se lê: "O Santo Padre quer salvar os seus filhos, também os Judeus, e ordena que em todos os Mosteiros se dê hospitalidade a estes perseguidos". A anotação é de novembro de 1943 e inclui a lista de 24 pessoas acolhidas neste Mosteiro como adesão ao desejo do Sumo Pontífice.

A Pave the Way Foundation, uma fundação que se dedica à promoção da paz no mundo por meio do diálogo inter-religioso, liderada pelo judeu Gary Lewis Krupp comunicou, em setembro de 2009, ao Papa Bento XVI uma iniciativa que busca dar a Pio XII o título de "Justo entre as Nações" – o que seria equivalente ao reconhecimento que faz a Igreja Católica dos santos - e assim colocar o seu nome no elenco do conhecido jardim dos justos no Yad Vashem de Jerusalém.

Apesar disso, existem também alguns historiadores que o acusam de cooperação com os regimes totalitários da Europa mesmo antes e durante o seu pontificado. O bispo brasileiro Dom Carlos Duarte Costa foi excomungado em 1945 por sustentar, de público, estas acusações e por denunciar a criação de uma organização secreta chamada Operação Odessa, que tinha como finalidade dar fuga a oficiais de altas patentes nazistas e fascistas logo após o triunfo das potências aliadas. Nestas fugas, os oficiais fugiam com passaportes diplomáticos do Vaticano, principalmente para a América Latina em sua maioria para a Argentina e Brasil.

Fonte: Wikipédia


Tags: Papa, vaticano, igreja, catolicismo, Segunda Guerra Mundial, nazismo, comunismo, excomunhão






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