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17 de julho de 1998.

Rússia enterra seu último czar. Restos de Nicolau II e de sua família são enterrados em São Petersburgo

Funeral do Czar Nicolau II

Nicolau II (Nikolái Alieksándrovich Románov) foi o último Imperador da Rússia, Rei da Polônia e Grão-Duque da Finlândia. Nasceu no Palácio de Catarina, em Tsarskoye Selo, próximo de São Petersburgo, em 18 de maio (6 de maio no calendário juliano) de 1868. É também conhecido como São Nicolau o Portador da Paixão pela Igreja Ortodoxa Russa. Oficialmente, era chamado Nicolau II, Imperador e Autocrata de Todas as Rússias.

Filho de Alexandre III, governou desde a morte do pai, em 1º de novembro de 1894, até sua abdicação em 15 de março de 1917, quando renunciou em seu nome e no nome de seu herdeiro, passando o trono para seu irmão, o grão-duque Miguel Alexandrovich. Durante seu reinado viu a Rússia decair de uma potência do mundo para um desastre econômico e militar. Nicolau foi apelidado pelos críticos de "o Sanguinário" por causa da Tragédia de Khodynka, pelo Domingo Sangrento e pelos fatais programas antissemitas que aconteceram na época de seu reinado. Como Chefe de Estado, aprovou a mobilização de agosto de 1914 que marcou o primeiro passo fatal em direção à Primeira Guerra Mundial, a revolução e consequente queda da dinastia Romanov.


Nicolau II e sua família (da esquerda para a direita): Olga, Maria, Nicolau, Alexandra, Anastásia, Alexei e Tatiana.

O seu reinado terminou com a Revolução Russa de 1917, quando, tentando retornar do quartel-general para a capital, seu trem foi detido em Pskov e ele foi obrigado a abdicar. A partir daí, o czar e sua família foram aprisionados, primeiro no Palácio de Alexandre em Tsarskoye Selo, depois na Casa do Governador em Tobolsk e finalmente na Casa Ipatiev em Ecaterimburgo. Nicolau II, sua mulher, seu filho, suas quatro filhas, o médico da família imperial, um servo pessoal, a camareira da imperatriz e o cozinheiro da família foram executados no porão da casa pelos bolcheviques na madrugada de 16 para 17 de julho de 1918. É conhecido que esse evento foi ordenado de Moscou por Lenin e pelo também líder bolchevique Yakov Sverdlov. Mais tarde Nicolau II, sua mulher e seus filhos foram canonizados como neomártires por grupos ligados à Igreja Ortodoxa Russa no exílio.

Família

Nicolau era filho do czar Alexandre III e da imperatriz Maria Feodorovna, nascida "Princesa Dagmar da Dinamarca". Seus avós paternos eram o imperador Alexandre II e a imperatriz Maria Alexandrovna, nascida princesa Maria de Hesse. Seus avós maternos eram o rei Cristiano IX da Dinamarca e a princesa Luísa de Hesse-Cassel. Nicolau tinha três irmãos mais novos: Alexandre, Jorge e Miguel e duas irmãs mais novas: Xenia e Olga.

Maternalmente, Nicolau era sobrinho de vários monarcas, incluindo Jorge I da Grécia, Frederico VIII da Dinamarca, Alexandra da Dinamarca e Tira da Dinamarca.


Árvore Genealógica de Nicolau II.

Primeira Guerra Mundial

Logo após o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro por Gavrilo Princip, um membro da associação nacionalista sérvia conhecida como Mão Negra em Sarajevo em 28 de junho de 1914, Nicolau vacilou no rumo que a Rússia tomaria. O rebentar da guerra não foi inevitável, mas líderes, diplomatas e alianças do século XIX, criaram um clima de um conflito em larga escala. A concepção de pan-eslavismo e etnia aliaram o Império Russo e o Reino da Sérvia em um tratado de proteção, e o Império Alemão e o Império Austro-Húngaro foram similarmente aliados. Conflitos territoriais entre a Alemanha e a França e entre a Áustria e a Sérvia, tiveram como consequência alianças feitas por toda a Europa. As alianças da Tríplice Entente (França, Grã-Bretanha e Rússia) e da Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria e, mais tarde, Itália) foram estabelecidas antes da guerra, mas eram somente compreendidas por líderes de governos aliados e foram mantidas secretas do grande público. O assassinato de Francisco Ferdinando levou um país para dentro do conflito com o outro, e cada um independentemente declarou guerra. Nicolau não queria nem abandonar a Sérvia ao ultimato da Áustria-Hungria, nem provocar uma guerra geral. Em uma série de cartas trocadas com o kaiser Guilherme II (a chamada correspondência Willy-Nicky), os dois proclamaram o seu desejo pela paz, e cada um tentou fazer com que o outro recuasse. Nicolau tomou medidas externas a esse respeito, exigindo que a mobilização russa fosse somente contra a fronteira austríaca, com a esperança de prevenir uma guerra com o Império Alemão.


O czar Nicolau II com a equipe do quartel-general.

Os russos não tinham planos de contingência para uma mobilização parcial, e em 31 julho de 1914, Nicolau deu o passo fatal de confirmar a ordem para uma mobilização geral. Nicolau foi fortemente aconselhado contra a mobilização das forças Russas, mas escolheu ignorar esse conselho. Ele pôs o exército russo em "alerta" em 25 de julho. Embora isso não fosse uma mobilização, ameaçou as fronteiras alemãs e austríacas e pareceu uma declaração militar de guerra.

Em 28 de julho, a Áustria formalmente declarou guerra à Sérvia, levando a Rússia e a Alemanha a entrarem na guerra, como protetorados, e a França e a Grã-Bretanha como aliados russos. O conde Witte contou ao embaixador francês Paléologue, que no seu ponto de vista russo, a guerra era uma loucura, solidariedade eslava era simplesmente uma tolice e que a Rússia não poderia esperar nada da guerra.

Em 31 de julho, a Rússia completou sua mobilização, mas ainda mantinha que não atacaria, se acordos de paz começassem. A Alemanha replicou, dizendo que a Rússia deveria se desmobilizar nas próximas doze horas.

Em São Petersburgo, às sete horas da noite, com um ultimato que a Rússia expirou, o embaixador alemão na Rússia, se encontrou com o Ministro do Exterior russo, Sérgio Sazonov, e perguntou três vezes se a Rússia não poderia reconsiderar, e então com um aperto de mãos entregou a nota que aceitava a disputa e a declaração de guerra.

O rebentar da guerra em 1º de agosto de 1914 achou a Rússia excessivamente despreparada. A Rússia e seus aliados colocaram sua fé no exército, o famoso "pesado cilindro russo". A força antes da guerra era de 1.400.000; mobilizações acrescentaram 3.100.000 reservas e outros milhões estavam preparados atrás deles. Em qualquer outro respeito, contudo, a Rússia estava despreparada para a guerra. A Alemanha tinha dez vezes mais ferrovias por milha quadrada, e enquanto que os soldados russos viajavam uma média de 800 milhas (1.290 km) para alcançar o fronte, os soldados alemães viajavam menos de um quarto dessa distância. As indústrias pesadas russas eram ainda muito pequenas para equipar as massivas armadas que o czar conseguia levantar e suas reservas de munição eram lastimavelmente pequenas. Com o mar Báltico barrado pelos U-boats alemães e os Dardanellos pelas armas do anterior aliado, o Império Otomano, a Rússia conseguia receber ajuda somente via Archangel, que ficava solidamente congelado no inverno, ou Vladivostock, que estava a mais de 4.000 milhas da linha de frente. Além disso, o alto comando russo estava enfraquecido com o mútuo desdém entre Vladimir Sukhomlinov, o Ministro da Guerra e o formidável soldado gigante grão-duque Nicolau Nikolaevich, que comandava os exércitos no campo de batalha. A despeito de tudo isso, um imediato ataque foi ordenado contra a província alemã no leste prussiano. Os alemães se mobilizaram com grande eficiência e derrotaram completamente os dois exércitos russos invasores. A Batalha de Tannenberg, onde uma armada russa inteira foi aniquilada lançou uma sombra assustadora sobre o futuro do império - os soldados leais que morreram eram necessários para a proteção da dinastia.


Nicolau (esquerda) com o grão-duque Nicolau Nikolaevich em 1915.

Mais tarde, os exércitos russos tiveram um moderado sucesso contra os exércitos austro-húngaros e contra as forças do Império Otomano. Contudo, isso nunca sucedeu contra as forças do exército alemão.

Gradualmente, uma guerra de desgastes foi estabelecida na vasta fronte oriental, onde os russos estavam enfrentando as forças combinadas dos império Alemão e Austro-Húngaro, e sofreram perdas cambaleantes. O general Denikin, retrocedendo da Galícia, escreveu: "A artilharia pesada alemã varreu todas as linhas de trincheira, e seus defensores. Nós fortemente respondemos. Não havia nada conosco com que pudéssemos replicar. Nossos regimentos, completamente exaustos, estavam repelindo um ataque atrás do outro com baionetas.... Sangue corria interminantemente, as fileiras ficaram finas e finas e finas. O número de túmulos multiplicou.". Nicolau Golovine, um antigo general do exército imperial estimou que 1.300.000 homens foram mortos em ação; 4.200.000 ficaram feridos, destes 350.000 morreram dos ferimentos mais tarde; e 2.400.000 foram feitos prisioneiros. O total é 7.900.000 - mais da metade dos 15.500.000 homens que foram imobilizados. Em 5 de agosto com o exército em retirada, Varsóvia caiu. Derrotas no fronte geraram desordens em casa. Primeiro, os alvos foram alemães e por três dias em junho, lojas, padarias, fábricas, casas privadas e propriedades rurais pertencentes a pessoas com nomes alemães foram saqueados e queimados. Depois, as multidões inflamadas voltaram-se ao governo, declarando que a imperatriz deveria ser fechada em um convento, o czar deposto e Rasputin enforcado. O czar estava, sem nenhum recurso, surdo a esses descontentes. Uma seção de emergência na Duma foi exigida e um Conselho Especial de Defesa foi estabelecido, seus membros dentre a Duma e os ministros do czar, estavam indecisos.

Em julho de 1915, o rei Cristiano X da Dinamarca, primo de primeiro grau do czar, enviou Hans Niels Andersen a Tsarskoye Selo com uma oferta de agir como mediador. Ele fez várias viagens entre Londres, Berlim e Petrogrado e em julho, viu a imperatriz viúva Maria Feodorovna. Andersen disse a ela que eles concluiriam a paz. Nicolau escolheu recusar a oferta de mediação do rei Cristiano.

O vigoroso e eficiente general Alexei Polivanov substituiu Sukhomlinov como Ministro da Guerra. A situação não melhorou e o recuo, contudo continuou. Nicolau encorajado por Alexandra e sentindo que era seu dever, e que sua presença pessoal inspiraria suas tropas, decidiu liderar seu exército diretamente, em oposição a conselhos contra. Ele assumiu o cargo de comandante-chefe após a demissão de seu primo dessa posição, o altamente respeitado e experiente Nicolau Nikolaevich (setembro de 1915) a seguir a perda do Reino da Polônia. Esse foi um erro fatal, e foi diretamente associado com o comandante-chefe, bem como todas as perdas subsequentes. Nicolau estava também longe, no remoto quartel general em Mogilev, distante do governo direto do império, e quando a revolução rebentou em Petrogrado, estava inapto para evitá-la, sendo tão isolado do governo. Na realidade, o movimento foi em grande parte, simbólico, uma vez que todas as decisões militares importantes eram feitas pelo seu Chefe do Estado-Maior, o general Mikhail Alekseyev, e Nicolau fazia pouco mais do que rever tropas, inspecionar hospitais nos campos de batalha e presidir almoços militares.


Nicolau II com os filhos e cossacos em 1916.

A Duma ainda pedindo por reformas, e intranquilidades políticas continuaram durante a guerra. Isolado da opinião pública, Nicolau não conseguia ver que a dinastia estava em declínio. Com Nicolau no fronte, as questões domésticas e o controle da capital, ficaram com sua esposa, Alexandra, no entanto, o relacionamento dela com Gregório Rasputin e sua ascendência alemã promoveram descrédito na autoridade da dinastia. Alexandra não tinha experiência e contratava ministros incompetentes prestando atenção apenas aos conselhos de Rasputin, o que fez com que o governo nunca fosse estável ou eficiente. Nicolau foi repetidamente advertido sobre a destrutiva influência de Rasputin, mas falhou em afastá-lo. Nicolau recusou censurar a imprensa, e rumores selvagens e acusações sobre Alexandra e Rasputin apareciam quase diariamente. Alexandra foi até mesmo colocada sob acusações de traição, e de minar o governo devido a suas raízes alemãs. Foi durante a guerra que São Petersburgo foi simbolicamente renomeada Petrogrado, o equivalente eslavo em resposta à crescente fobia aos alemães durante o tempo de guerra. A irritação com a falta de ação e o extremo dano que a influência de Rasputin estava fazendo aos esforços de guerra na Rússia e à monarquia, levou ao seu (Rasputin) assassinato por um grupo de nobres, liderados pelo príncipe Félix Yussupov e pelo grão-duque Dmitri Pavlovich, um primo do czar, em 16 de dezembro de 1916.

Final de seu reinado

Havia aumento cada vez maior da pobreza à medida que o governo fracassava em produzir abastecimentos, criando tumultos e rebeliões. Com Nicolau distante, no fronte em 1915, a autoridade entrou em colapso (a imperatriz Alexandra administrava o governo de São Petersburgo desde 1915), e São Petersburgo foi deixada nas mãos de grevistas e soldados e recrutas amotinados. Apesar dos esforços do embaixador britânico Sir George Buchanan de avisar o czar de que ele deveria conceder reformas constitucionais para defender-se da Revolução, Nicolau continuou permanecendo distante no quartel general (Stavka) a 400 milhas (600 km) de Mogilev, deixando sua capital e a corte abertas a intrigas e insurreições.

Na primavera de 1917, a Rússia estava próxima a um colapso total. O exército levou 15 milhões de homens das fazendas e os preços dos alimentos elevaram-se. Um ovo custava quatro vezes mais do que em 1914, manteiga cinco vezes mais. O inverno severo dividiu as ferrovias, sobrecarregadas com cargas de emergência de carvão e suprimentos, foi o golpe final. A Rússia começou a guerra com 20.000 locomotivas; em 1917, 9.000 estavam em serviço, enquanto o número de vagões ferroviários em serviço diminuiu de 500.000 para 170.000. Em fevereiro de 1917, 1.200 locomotivas arrebentaram sua caldeira de vapor e aproximadamente 60.000 vagões foram imobilizados. Em Petrogrado, abastecimentos de farinha e combustível desapareceram. Foi decretada por Nicolau, a proibição de álcool durante a guerra em ordem de levantar o patriotismo e produtividade, mas em vez disso, danificou o tesouro e as finanças da guerra.


Nicolau durante a prisão em Tsarskoye Selo, em uma de suas últimas fotos.

Em 23 de fevereiro de 1917 em Petrogrado, a combinação do inverno frio e severo aliado à intensa carência de alimentos, ocasionou em pessoas quebrando janelas das lojas para conseguir pão e outras necessidades. Nas ruas, bandeiras vermelhas apareceram e as multidões cantavam: "Abaixo a mulher alemã! Abaixo Protopopov! Abaixo a guerra!" A polícia começou a atirar na população que incitava tumultos, dos topos dos telhados. As tropas na capital eram pobremente motivadas e seus oficiais não tinham razão para serem leais ao regime. Eles estavam irritados e cheios de fervor revolucionário e apoiaram a população. O gabinete do czar pediu a Nicolau para retornar a capital e oferecer a renúncia. 500 milhas distante o czar, mal-informado por Protopopov de que a situação estava sob controle, ordenou que medidas firmes fossem tomadas contra os manifestantes. Para essa tarefa, a guarnição de Petrogrado era totalmente inadequada. A nata do antigo exército leal estava enterrada em sepulturas na Polônia e na Galícia. Em Petrogrado, 170.000 recrutas, rapazes do interior ou homens idosos dos subúrbios das classes trabalhadoras, continuaram a manter controle sob o comando de oficiais feridos e inválidos do fronte, e cadetes das academias militares. Muitas unidades, carecendo de oficiais e rifles, nunca passaram por treinamento formal. O general Khabalov tentou pôr as instruções do czar em prática na manhã do domingo, 11 de março de 1917. A despeito de enormes cartazes ordenando ao povo para afastar-se das ruas, vastas multidões agruparam-se e foram somente dispersadas após 200 serem fuzilados, apesar de uma companhia do Regimento Volinsky atirar para o alto ao invés de atirar na multidão, e uma companhia dos Guardas de Pavlovsky atirar no oficial que deu o comando de abrir fogo. Nicolau, informado da situação por Rodzianko, ordenou reforços para a capital e a suspensão da Duma. Foi tarde demais.

Em 12 de março, o Regimento Volinsky amotinou-se e foi rapidamente sucedido pelo Semonovsky, o Ismailovsky e até mesmo pela lendária Guarda Preobrajensky, o regimento mais antigo e leal fundado por Pedro, o Grande. O arsenal foi pilhado, o Ministério do Interior, o prédio do Governo Militar, o quartel-general da polícia, a Corte Judicial e um grupo de prédios policiais foram queimados. À tarde, a Fortaleza de Pedro e Paulo com sua pesada artilharia, estava nas mãos dos insurgentes. Ao anoitecer, 60.000 soldados haviam se juntado à revolução. A ordem quebrou e membros do parlamento (Duma) formaram um Governo Provisório para tentar restaurar a ordem, mas foi impossível alterar o curso da tendência revolucionária. A Duma e o Soviete já haviam formado os núcleos de um Governo Provisório e decidiram que Nicolau deveria abdicar. Encarando essa decisão, que era ecoada por seus generais, privado das tropas leais, com sua família firmemente nas mãos do Governo Provisório e temeroso de expandir uma guerra civil e abertura do caminho para uma conquista alemã, Nicolau não tinha outra escolha, mas se submeter. Ao final da Revolução de Fevereiro de 1917, a 15 de março (2 de março de acordo com o calendário gregoriano) de 1917, Nicolau II foi forçado a abdicar. Ele inicialmente abdicou a favor do czarevich Alexei, mas rapidamente mudou de ideia depois do conselho dos médicos de que o herdeiro não viveria muito tempo longe dos pais, que poderiam ser forçados a irem para o exílio. Nicolau redigiu um novo manifesto, nomeando seu irmão, o grão-duque Miguel, como o próximo Imperador de Todas as Rússias. Ele emitiu o seguinte manifesto (que foi suprimido pelo Governo Provisório):

“Neste tempo de grande luta contra o inimigo externo que já há quase três anos tenta escravizar nossa pátria, o Senhor Deus julgou por bem enviar à Rússia nova provação. Revoltas populares internas ameaçam refletir calamitosamente na conduta de uma guerra que continua. O destino da Rússia, a honra do Exército heroico, o bem do povo, todo o futuro de nossa querida pátria, exigem que saiamos vitoriosos dessa guerra a qualquer custo. Nestes dias decisivos para a vida da Rússia, julgamos uma questão de consciência facilitar para nosso povo, a união e a formação das fileiras de forças populares ao redor desse objetivo, que é uma rápida vitória, e assim, de acordo com a Duma, reconhecemos a necessidade de abdicarmos ao trono do Estado russo e nos desembaraçarmos do poder supremo. Não desejando a separação de nosso amado filho, transferimos o legado ao nosso irmão, grão-duque Miguel Alexandrovich e o abençoamos em sua ascensão ao trono do Estado russo. Recomendamos ao nosso irmão que governe em união plena e inviolável com os representantes do povo, de acordo com os princípios que serão estabelecidos.
Que o Senhor salve a Rússia!”

Tudo indica que Nicolau abdicou por motivos patrióticos, convencido pelos generais de que tal atitude era indispensável para manter a Rússia na guerra e garantir a vitória. Se sua primeira preocupação tivesse sido a manutenção do poder, ele teria firmado a paz com a Alemanha - como Lênin, um ano depois - e lançado as tropas contra os amotinados em Petrogrado e Moscou.

O grão-duque Miguel negou aceitar o trono até que o povo fosse permitido a votar através de uma assembleia constituinte para a continuação da monarquia ou de uma república. A abdicação de Nicolau II e a subsequente revolução bolchevique levou ao fim três séculos do governo da dinastia Romanov. Também abriu caminho para a massiva destruição da cultura da Rússia, com o fechamento e demolição de várias igrejas e monastérios; roubo de objetos valiosos e bens da antiga aristocracia e classes ricas; e a supressão de formas de arte religiosas e folclóricas.

A queda da autocracia czarista causou alegria aos liberais e socialistas na Grã-Bretanha e na França e tornou possível aos Estados Unidos, o primeiro governo estrangeiro a reconhecer o Governo Provisório, a entrar na guerra em abril, lutando por uma aliança de democracias contra uma aliança de impérios. Na Rússia, o anúncio da abdicação do czar, foi recebido com muitas emoções. Incluindo alegria, alívio, medo, raiva e confusão.

Em 3 de abril de 1917, o novo governador, Alexander Kerensky decidiu visitar a família imperial, que estava presa em Tsarskoye Selo. Kerensky admitiu seu extremo nervosismo:

“Para ser franco, eu estava tudo menos calmo antes do primeiro encontro com Nicolau II. Muitas coisas duras e terríveis foram associadas no passado ao seu nome… Em todo o caminho à frente do corredor sem fim, eu estava lutando para controlar minhas emoções… [Entrando no quarto]… Meus sentimentos mudaram como um relâmpago… A família imperial… Estava em pé… Perto da janela, ao redor de uma pequena mesa, em um pequeno grupo amontoado e perplexo. Desse grupo de humanidade amedrontada, saiu um pouco para fora, hesitantemente, um homem de altura mediana em um uniforme militar, que andou à frente para me receber com um sorriso leve e peculiar. Era o imperador… Ele parou em confusão. Não sabia o que fazer, não sabia como eu agiria, qual atitude eu adotaria. Deveria andar adiante para me receber como anfitrião, ou esperar para eu falar primeiro? Deveria estender a mão? Em um relampejo, soube exatamente a exata posição: a confusão da família, seu medo de se encontrarem sozinhos com um revolucionário, cujo propósito desse rápido encontro, desconheciam. Respondendo com um sorriso, eu andei rapidamente em direção ao imperador, apertei suas mãos e disse claramente: 'Kerensky'- como eu sempre faço, como apresentação… Nicolau II apertou com firmeza minhas mãos, recuperando-se imediatamente de sua confusão, e, sorrindo mais uma vez, guiou-me até a família”.

À medida que o tempo passava, Kerensky continuou a visitar a família, e o relacionamento entre o ministro socialista e o soberano deposto e sua mulher, melhorou nitidamente. Em 25 de abril, Kerensky confessou, que durante estas semanas, começou a sentir afeto pelas "maneiras modestas e completa ausência de pose [de Nicolau]. Talvez, era essa simplicidade sincera e natural que dava ao imperador a fascinação peculiar, o charme que era reforçado ainda mais pelos seus olhos maravilhosos, profundos e tristes. Não pode ser dito que as minhas conversas com o czar se deviam a um desejo especial dele; ele era obrigado a me ver… ainda assim, o antigo czar nunca perdeu seu equilíbrio, nunca falhou em agir como um homem cortês." De sua parte Nicolau declarou: "Ele [Kerensky] é um homem que ama a Rússia, e eu gostaria de tê-lo conhecido mais cedo, porque ele teria sido útil para mim.

Cativeiro e execução

Em agosto de 1917, o governo de Kerensky evacuou os Romanovs para Tobolsk, nos montes Urais, alegando que isso os protegeria do crescente fluxo da revolução. Lá eles viveram na antiga Mansão do Governador com um considerável conforto. Em 30 de abril de 1918, eles foram transferidos para seu destino final: a Casa Ipatiev em Ecaterimburgo.


Nicolau e o filho Alexei, serrando lenha na prisão em Tobolsk, 1917.

Depois que os bolcheviques tomaram o poder em outubro de 1917, as condições de seu aprisionamento tornaram-se estritas e a discussão de pôr Nicolau em julgamento ficou mais frequente. Nicolau seguiu os eventos da Revolução de Outubro com interesse, mas sem alarme. Ele continuou a subestimar a importância de Lênin, mas começou a sentir que a sua abdicação dera à Rússia mais prejuízos do que benefícios. Nesse meio tempo, ele e a família se ocupavam em serem cordiais. A visão de Nicolau e sua família começou a mudar as impressões até mesmo dos revolucionários endurecidos. Anatoly Yakimov, um membro dos guardas que foram capturados pelo Exército Branco disse:

“Eu ainda tenho uma impressão deles que ficará para sempre em minha alma. O czar não era jovem, sua barba já estava ficando grisalha… [Ele vestia] uma blusa de soldado com um cinto de oficial amarrado por uma fivela em volta da cintura. A fivela era amarela… a blusa era cáqui, a mesma cor de suas calças e das botas gastas. Seus olhos eram bondosos, e ele tinha no geral, uma expressão benévola. Eu tinha a impressão de que ele era uma pessoa bondosa, simples, franca e tagarela. Às vezes eu sentia que ele falava comigo diretamente. Ele nos olhava como se tivesse gostado de falar conosco. A czarina não era nada como ele. Ela parecia severa e tinha as maneiras e aparência de uma mulher arrogante e zangada. Às vezes, tínhamos o hábito de discutir sobre eles entre nós e decidimos que ela era diferente e parecia exatamente como uma czarina. Ela parecia que era mais velha que o czar. Cabelos grisalhos eram claramente visíveis em suas têmporas e seu rosto não era o de uma mulher jovem. Todos os meus maus pensamentos sobre o czar desapareceram depois que eu permaneci um certo tempo entre os guardas. Depois de vê-los [o czar e sua família] várias vezes, eu comecei a sentir algo inteiramente diferente em relação a eles; comecei a sentir pena deles. Pena deles como seres humanos. Estou falando a você a completa verdade. Você pode acreditar ou não em mim, mas eu dizia a mim mesmo: "Eles que fujam… Alguma coisa deve ser feita para que eles fujam”.

Em Ecaterimburgo, o czar foi proibido de usar as dragonas e as sentinelas rabiscavam desenhos obscenos na cerca para ofender suas filhas. Em 1º de março de 1918, a família foi posta para comer rações de soldados, o que significou a partida de dez criados devotados. A partir daí, manteiga e café foram considerados luxos. O que fez a família continuar foi a fé de que alguém os ajudaria.

Um anúncio oficial apareceu na imprensa nacional dois dias após a morte do czar e sua família em Ecaterimburgo. Informava que o monarca havia sido executado embaixo da ordem do Presidium do Soviete Regional dos Urais sob a pressão da aproximação da Legião Tcheca.

Embora o Soviete oficial tenha esclarecido que a responsabilidade da decisão era dos superiores locais do Soviete Regional dos Urais, Leon Trotsky, em seu diário declarou que a execução aconteceu com a autoridade de Lênin e Sverdlov. A execução realizou-se na noite de 16 para 17 de julho de 1918 sob a liderança de Yakov Yurovsky e resultou na morte de Nicolau II, sua esposa, suas quatro filhas, seu filho, seu médico pessoal Eugene Botkin, a empregada de sua mulher Anna Demidova, o cozinheiro da família Ivan Kharitonov e o criado Alexei Trupp. Nicolau foi o primeiro a morrer. Foi baleado múltiplas vezes na cabeça e no peito por Yurovsky. As últimas a morrer foram Anastásia, Tatiana, Olga e Maria, que foram golpeadas por baionetas. Elas vestiam mais de 1,3 quilos de diamantes, o que proporcionou a elas uma proteção inicial das balas e baionetas.

Em janeiro de 1998, os restos mortais escavados embaixo de uma estrada de terra perto de Ecaterimburgo, em 1991, foram identificados como sendo de Nicolau II e sua família (excluindo uma das filhas e Alexei). As identificações feitas separadamente por cientistas russos, britânicos e americanos usando análises de DNA, concordaram e revelaram serem conclusivas. Em abril de 2008, autoridades russas anunciaram que haviam encontrado dois esqueletos perdidos dos Romanovs perto de Ecaterimburgo e foi confirmado por testes de DNA que eles pertenciam a Alexei e a uma de suas irmãs. Em 1º de outubro de 2008, a Suprema Corte Russa determinou que o czar Nicolau II e sua família foram vítimas de repressão política e deveriam ser reabilitados.

Canonização e reabilitação

Em 1981, a família foi canonizada pela Igreja Ortodoxa Russa no Exterior como Neomártires. Em 2000, a Igreja Ortodoxa Russa, dentro da Rússia canonizou a família como Portadores da Paixão. De acordo com a declaração do sínodo de Moscou, eles foram glorificados como santos pelas seguintes razões:

“No último monarca Ortodoxo e membros de sua família, vemos pessoas que sinceramente aspiraram encarnar em suas vidas, os comandos do Evangelho. No sofrimento suportado pela Família Real na prisão, com humildade, paciência e submissão, e em suas mortes martirizadas em Ecaterimburgo na noite de 4/17 de julho de 1918, foi revelada a luz da fé de Cristo, que vence o mal”.

Mesmo assim, a canonização de Nicolau foi controversa. A Igreja Ortodoxa Russa no Exterior ficou dividida sobre a questão em 1981, e alguns membros sugeriram que ele era um governante fraco que falhou em impedir a ascensão dos bolcheviques. Um padre salientou que seu martírio na Igreja Ortodoxa Russa não teve nada relacionado com suas ações pessoais, mas sim pelo motivo que foi morto.


Igreja do Sangue em Ecaterimburgo, construída no lugar onde Nicolau II e sua família foram mortos em 1918.

A igreja dentro da Rússia rejeitou a classificação da família como neomártires por não terem morrido por causa de sua fé. Os líderes religiosos nas duas igrejas também tinham objeções quanto a canonização da família do czar pois sua incompetência levou a uma revolução e ao sofrimento de seu povo, além de ter sido em parte o motivo de seu assassinato, o de sua família e servos. Para seus oponentes, o fato de que Nicolau era um homem gentil, bom marido ou um líder que mostrava genuína preocupação com o povo não o redimia por sua época à frente da Rússia.


Igreja de são Nicolau II no Monastério Romanov próximo ao lugar onde os restos mortais dos romanovs foram encontrados em Ganina Yama.

Em 30 de setembro de 2008, a Suprema Corte da Rússia reabilitou a família real russa e o czar Nicolau II, 90 anos após sua morte. A Suprema Corte russa declarou que sua execução foi ilegal e que a família real russa foi vítima de um crime. Encontra-se sepultado na Catedral de Pedro e Paulo, São Petersburgo na Rússia.

Enterro

Os restos do último czar da Rússia foram transladados de avião para a antiga capital imperial, São Petersburgo, para serem enterrados na Catedral de Pedro e Paulo, 80 anos após seu assassinato pelos bolcheviques numa aldeia siberiana.

O enterro de Nicolau II e sua família foi, segundo o governo russo, um gesto de arrependimento pelos crimes da era comunista, mas gerou polêmica entre os políticos e a Igreja Ortodoxa. A verdade sobre as execuções ficou escondida durante 80 anos.

Fonte: Wikipédia


Tags: Czar, Bolcheviques, execução, Nicolau II, Revolução Russa, Execução da família Romanov






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