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23 de janeiro de 1943.

Quase dois meses após sua pré-estreia nos Estados Unidos o filme Casablanca com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman entra em circuito comercial

Humphrey Bogart & Ingrid Bergman

Exibido pela primeira vez em 26 de novembro de 1942, o filme em preto-e-branco Casablanca é considerado ainda hoje um dos clássicos da história do cinema. Com a interpretação dos papéis principais, de apaixonados em meio a um momento histórico, Ingrid Bergman e Humphrey Bogart tornaram-se famosos em todo o mundo.

"Assisti a Casablanca mais uma vez recentemente, após longo tempo. Nos Estados Unidos, ele passa toda semana na televisão. Eu ainda acho o filme incrivelmente ágil; não há monotonia. Ele tem tudo: heroísmo, romantismo e muitos artistas fantásticos em papéis pequenos", comentou certa vez a atriz Ingrid Bergman, falecida em 1982. Mas não foi apenas a comovente história de amor entre a beldade antifascista Ilsa Lund e o honesto dono de bar Rick Blaine, interpretado por Humphrey Bogart, que tornou o filme tão popular até hoje.

No business like war business

Passada a tão festejada noite de gala, no dia 26 de novembro de 1942 em Manhattan, a película dirigida por Michael Curtiz ficou de início relativamente esquecida. Porém um bom motivo a trouxe de volta ao cartaz nos cinemas dos Estados Unidos, dois meses depois.

Com a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial em dezembro de 1941, do lado dos Aliados, filmes que criticavam a Alemanha nazista ganharam prioridade em Hollywood. Para melhor promover a produção, a Warner Brothers adiou propositalmente seu lançamento em circuito comercial para o concidir com a Conferência de Casablanca, em 23 de janeiro de 1943.

Foi nesta que o primeiro-ministro britânico Winston Churchill e o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt acertaram que a guerra só poderia terminar com a capitulação incondicional de Alemanha, Itália e Japão.

Prêmios e clichês

A estratégia de marketing deu certo. Casablanca foi um sucesso de público e conquistou três Oscars, entre eles o de Melhor Filme de 1943.

Em 1992, Lauren Bacall, o grande amor e última esposa de Humphrey Bogart, perguntava-se mais uma vez por que a história de 1942 tanto atraía a todos, mesmo com o passar dos anos. Seria o espírito do patriotismo em tempo de guerra, ou as intrigas e perigos num local misterioso do deserto, ou o desespero dos apaixonados presos numa armadilha em Casablanca?

Os diálogos sob medida e várias insinuações sutis certamente impulsionaram a fama de Casablanca. Não há como negar que a película é repleta de clichês e absurdos. Contudo, nada disso conseguiu manchar sua aura, até hoje.

Por exemplo, os vistos no passaporte para a viagem a Lisboa trazem a assinatura de Charles de Gaulle, ou seja, exatamente do homem que liderava o movimento de resistência francesa contra o governo de Vichy, colaboracionista com os nazistas. E Victor Laszlo, que havia acabado de fugir de um campo de concentração, andava para lá e para cá sempre vestido com um bem passado terno tropical da alta costura parisiense.

Adulterado na Alemanha

Por ironia do destino, europeus que fugiram do continente devido à perseguição nazista interpretaram no filme tanto os papéis dos refugiados como também dos homens da SS alemã.

Para Humphrey Bogart, Casablanca foi o ponto máximo de sua carreira: o aventureiro desiludido tornado anti-herói, cinicamente calmo. Um homem de ação, como o comissário Louis Renault, da polícia francesa, atestava no seguinte diálogo na tela:

Rick Blaine:"Louis, por que acha que eu poderia me interessar em ajudar Laszlo a fugir?"

Louis Renault:"Porque eu, meu querido Rick, suspeito que por trás desse ar cínico bate um coração sentimental. Pode rir à vontade, mas estou me orientando exatamente pelo seu passado. Deixe-me só destacar dois momentos: em 1935 você contrabandeava armas para a Etiópia, em 1936 lutou na Espanha contra os fascistas."

Casablanca só foi estrear nos cinemas alemães em 1952. No entanto, numa versão abreviada e adulterada de tal forma através da dublagem, que o filme ficou desfigurado. Todas as referências ao nazismo haviam sido eliminadas. E a figura de Laszlo, membro da resistência, fora transformada em físico nuclear norueguês. A seu jeito, a Guerra Fria dos tempos de Adenauer se apoderara do passado.

Michael Marek (av)

Fonte: Deutsche Welle


Tags: Filme, cinema, nazismo, Segunda Guerra Mundial, Humphrey Bogart, Ingrid Bergman






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