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04 de dezembro de 1975.

Morre Hannah Arendt, teórica política alemã

Hannah Arendt em foto de 1969

Em 14 de outubro de 1906, nascia em Hannover a grande filósofa alemã. Judia e sobrevivente do Holocausto, ela refletiu sobre a banalidade do mal e a necessidade de ousar e de se expor na vida pública.

Hannah Arendt foi uma das maiores pensadoras do século 20. Suas análises políticas perspicazes lhe valeram distinções como o Prêmio Lessing de 1959 ou o Sonning de 1975, conferido pela Universidade de Copenhague por mérito em prol da cultura europeia.

Arendt nasceu em Hannover em 14 de outubro de 1906 e estudou filosofia em Marburg, onde foi aluna de Martin Heidegger. A estudante de talento extraordinário e o filósofo de fama mundial teriam, em seguida, um caso de amor.

A judia e o nazista

Seu romance com Heidegger gerou manchetes e até hoje fornece material para estudos biográficos. Os dois contam como um dos mais famosos casais de intelectuais, ao lado de Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir.

Porém, o mestre era casado, fato que fez a jovem decidir se mudar para Heidelberg, onde completou seu doutorado em 1928, sob a assistência da Karl Jaspers. Entretanto, a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha alterou radicalmente a vida da filósofa de origem judaica.

"Na época, repetia-se sem cessar uma frase que evoco agora: 'Se você é atacado como judeu, é preciso se defender como judeu'. Não como alemão, ou cidadão do mundo ou em nome dos direitos humanos, algo assim. Mas sim, bem concretamente: o que eu posso fazer?", declarou durante uma entrevista à televisão em outubro de 1964.


Martin Heidegger (1889-1976).

Quando Martin Heidegger se tornou o primeiro reitor nacional-socialista da Universidade de Freiburg, Hannah Arendt se afastou da filosofia para engajar-se na resistência antinazista. Em meados de 1933, foi presa pela Gestapo, porém conseguiu escapar.

Profissão: teoria política

Pouco mais tarde, Arendt fugiu para Paris. Lá conheceu seu futuro marido, o também filósofo Heinrich Blücher, com quem emigraria para os Estados Unidos em 1941. Em Nova York, ela inicia sua grande carreira: escreveu para revistas, trabalhou como revisora, professora universitária e em diversas organizações judaicas.

Em 1951, Arendt publicou seu revolucionário estudo Origens do totalitarismo. Seguem-se outros escritos, entre os quais Vita activa, uma teoria da atividade política. Em Sobre a revolução, ela examina as reviravoltas políticas radicais.

Certa vez, Arendt classificou sua profissão como "teoria política, se é que se pode falar em profissão". Seus livros a colocaram na capa de revistas importantes, aclamada como uma das grandes filósofas do século.

Riso polêmico

Em 1963, publicou Eichmann em Jerusalém, sobre o processo contra o criminoso nazista. No livro, que desencadeou uma longa e acirrada controvérsia, Hannah Arendt cunhou a famosa expressão "a banalidade do mal".


Capa do livro Eichmann em Jerusalém.

Entre outros argumentos, a filósofa foi acusada de, com sua teoria da banalidade, minimizar os crimes nazistas e o sofrimento dos judeus. Em resposta, Arendt disse, de certa maneira, compreender a reação indignada ao fato de ela ainda poder rir.

"Mas eu realmente achava que Adolf Eichmann era um palhaço. Li, e com muita atenção, seu interrogatório policial, de 3.600 páginas. E não sei quantas vezes tive que rir, mas com vontade! As pessoas levam a mal essa minha reação."

Eichmann e os terroristas do século 21: uma conexão?

O tema não a deixou mais em paz. Em 1965, ela fez uma palestra intitulada Sobre o mal, somente publicada em 2006, ano de seu centenário. O tema é o mal, diante do qual as palavras falham e o raciocínio fracassa.

Segundo Arendt, a origem dessa forma do mal está na própria recusa de pensar e julgar. Desta, resulta uma incapacidade de – na qualidade de agressor potencial – se ver no papel da vítima. Assim, Adolf Eichmann jamais levou em conta o destino dos judeus, cujo transporte e morte nos campos de extermínio ele organizara.

Da mesma forma, os terroristas suicidas não pensam nas vítimas de seus atos. Deste ponto de vista, se poderia ler hoje em dia a palestra de Arendt e seu livro sobre Eichmann como uma contribuição para o debate sobre as causas do terrorismo mundial.

Ousadia da exposição

Hannah Arendt faleceu em 4 de dezembro de 1975. A partir de sua própria experiência como judia, durante toda a vida ela interferiu no tema, sabendo que a irreflexão moral e política é o maior perigo. Por isso ela sempre procurou a "ousadia da exposição pública". A filósofa explica:

"Trata-se de se expor à luz pública, precisamente como pessoa. A segunda ousadia é: estamos iniciando algo, entrelaçamos nosso fio na rede das relações. No que isso resultará, não sabemos jamais. E concluindo, eu diria que essa ousadia só é possível com confiança nos seres humanos."

Fonte: Deutsche Welle


Tags: Teórica, política, nazismo






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