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18 de junho de 1452.

O Papa Nicolau V publicou a bula "Dum diversas" dirigida ao rei Afonso V de Portugal que, na prática, autorizava a escravatura perpétua aos sarracenos, pagãos e inimigos de Cristo

Nicolau V, 208º Papa da Igreja Católica

O Papa Nicolau V, nascido Tommaso Parentucelli (15 de novembro de 1397 — 24 de março de 1455), foi o 208º Papa da Igreja Católica Apostólica Romana eleito em 6 de março de 1447. Foi consagrado em 17 de março de 1447, falecendo em 24 de março de 1455.

Papa Nicolau V e escravidão

Dum diversas é uma bula papal emitida a 18 de junho de 1452 pelo Papa Nicolau V e dirigida ao rei Afonso V de Portugal acompanhada pelo breve apostólico Divino amore communiti. Por aquela bula os portugueses eram autorizados a conquistar territórios não cristianizados e consignar a escravatura perpétua os sarracenos e pagãos que capturassem, razão pela qual é considerada frequentemente como o advento do comércio e tráfico europeu de escravos na África Ocidental.

Esta bula é considerada como uma resposta à ameaça sarracena quando ocorreu o grande choque cultural entre cristãos, muçulmanos e pagãos, conhecidos e temidos pelos cristãos pela sua violência. A bula tinha por objectivo final, contudo, a conversão dos muçulmanos e pagãos escravizados.

O Papa Calisto III reiterou a bula em 1456 com a bula Etsi cuncti, renovada pelo Papa Sisto IV em 1481 e pelo Papa Leão X em 1514, com a bula Precelse denotionis. O conceito de consignamento de esferas de influência exclusiva de determinados estados-nação foi alargado ao continente americano em 1493 pelo Papa Alexandre VI com a bula Inter cætera. A 8 de janeiro de 1554, estes poderes foram alargados aos reis da Espanha.

Publicada um ano antes da queda de Constantinopla ocorrida em 29 de maio de 1453, a bula pode ter tido a intenção de começar uma nova cruzada contra o Império Otomano. O sobrinho de Nicolau V, Loukas Notaras, foi Megas Doux do Império Bizantino. Alguns historiadores veem estas bulas juntas como extensão do legado teológico das Cruzadas do Papa Urbano II para justificar a colonização europeia e o expansionismo, acomodando «tanto o mercado como os anseios da alma cristã».Dum Diversas era essencialmente geograficamente ilimitada na sua aplicação, sendo talvez o ato papal mais importante referente à colonização portuguesa.

Pela bula Dum Diversas, dirigida ao rei Afonso V de Portugal, o pontífice afirma:

“(...) outorgamos por estes documentos presentes, com a nossa Autoridade Apostólica, permissão plena e livre para invadir, buscar, capturar e subjugar sarracenos e pagãos e outros infiéis e inimigos de Cristo onde quer que se encontrem, assim como os seus reinos, ducados, condados, principados, e outros bens [...] e para reduzir as suas pessoas à escravidão perpétua”.

"(…) nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de Cristo".

No texto é utilizado o termo «sarracenos» (do grego: "sarakenoi"), uma das formas com que os cristãos medievais designavam os árabes e os muçulmanos em geral. As palavras "islã" e "muçulmano" só foram introduzidas nas línguas europeias no século XVII.

Para entender as razões que levaram o papa Nicolau V a emitir esta bula, há que recordar que ao tempo os muçulmanos ainda mantinham razias contra os cristãos na Europa, em particular ao longo das costas do Mediterrâneo e na região balcânica e do sueste europeu, com destaque para o avanço otomano sobre a Hungria e a Áustria. Por outro lado, o tráfico negreiro já desde há muito era feito pelos próprios africanos em largas regiões da África, onde as tribos, reinos e impérios africanos praticavam largamente o esclavagismo, mantendo desde período muito anterior à chegada dos europeus um intenso comércio de escravos com os povos muçulmanos do Norte de África e da Península Arábica. Os escravos eram inicialmente vendidos pelos próprios africanos, que tinham grandes mercados espalhados pelo interior do continente, abastecidos por guerras entre as tribos com sequestros aleatórios.

Posteriormente os muçulmanos (os sarracenos) iniciaram a chamada escravatura branca, com captura e redução à escravidão de europeus, com o apoio das principais potências muçulmanas, com destaque para a ação dos Piratas da Barbária, que operaram no Mediterrâneo ocidental e no Oceano Atlântico nordeste a partir de portos situados na costa da Berbéria, ou seja na região litoral do Norte de África correspondente hoje às costas da Argélia, da Tunísia, da Líbia e a alguns portos de Marrocos. Também ocorriam raptos em massa de eslavos conduzidos pelos tártaros e seus aliados otomanos nas estepes do leste europeu. O tráfico de escravos europeus para África é comprovado, por exemplo, com a descrição do Império do Mali feita pelo cronista muçulmano Ibn Batuta (1307-1377), um dos maiores viajantes da Idade Média, e o depoimento de al-Hasan (1483-1554) sobre Tombuctu, a capital do Império Songai.

Num sentido de limitação do alcance da bula Dum diversas, em 1537 o Papa Paulo III condenou o esclavagismo "injusto" dos não-cristãos pela bula Sublimus Dei, embora tenha por essa época considerado aceitáveis a escravatura em Roma, em 1545, as leis sobre escravatura promulgadas em 1547 por Henrique VIII da Inglaterra e, em 1548, a compra de escravos muçulmanos. Em 1686, o Santo Ofício limitou a bula ao decretar que os africanos escravizados por guerras injustas deviam ser postos em liberdade.

Dum Diversas, em conjunto com outras bulas como Romanus Pontifex (1455), Ineffabilis et summi (1497), Dudum pro parte (1516) e Aequum reputamus (1534) documentam o ius patronatus português. O Papa Alexandre VI, natural de Valência, emitiu uma série de bulas que limitavam o poder português em favor de Espanha, sobretudo a bula Dudum siquidem (1493).

Fonte: Wikipédia


Tags: Papa, vaticano, igreja, catolicismo, escravidão, escravos, Dum diversas, Nicolau V, Nicolau V,Calisto III, Sixto IV, Romanus Pontifex, Inter cætera, Æterni regis,






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