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07 de dezembro de 1990.

O Papa João Paulo II edita a encíclica “Redemptoris Missio” sobre a validade permanente do mandato missionário

A Missão do Redentor - Redemptoris Missio

Redemptoris Missio é uma encíclica do Papa João Paulo II, publicado no dia 7 de Dezembro de 1990, dedicada ao tema da "urgência da atividade missionária" e da "validade permanente do mandato missionário". Nesta carta, o Papa desejava "convidar a Igreja a renovar o seu compromisso missionário".

A encíclica trata sobre o valor permanente do preceito missionário, com oito capítulos: J. C. único Salvador; O Reino de Deus; O Espírito Santo, protagonista da missão; Os imensos horizontes da missão ad gentes; As vias da missão; O agente da pastoral missionária; A cooperação missionária; A espiritualidade missionária.

Resumo da Encíclica Redemptoris Missio (por Leandro Paulo do Couto)

O Papa começa o documento indicando que a “A tarefa fundamental da Igreja de todos os tempos e, particularmente, é a de dirigir o olhar do homem e orientar a consciência e experiência da humanidade inteira, para o mistério de Cristo”.

Segundo a encíclica Redenptoris Missio “o impulso missionário pertence, pois, à natureza íntima da vida cristã, e inspira também o ecumenismo: ‘que todos sejam um (...) para que o mundo creia que Tu Me enviaste’ (Jo 17,21)”.

Por tanto é um dever de todos o anuncio, ou seja, de anuncia Cristo a todos os povos. “Deus abre, à Igreja, os horizontes de uma humanidade mais preparada para a sementeira evangélica. Sinto chegado o momento de empenhar todas as forças eclesiais na nova evangelização e na missão ad gentes”.

“A Igreja conhece e confessa Jesus como ‘Cristo, o Filho de Deus vivo’ (Mt 16, 16): Cristo não é diferente de Jesus de Nazaré; e este é o Verbo de Deus feito homem, para a salvação de todos”. A salvação em Cristo, testemunhada e anunciada pela Igreja, é auto comunicação de Deus. “O amor não só cria o bem, mas faz participar também na própria vida de Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. Com efeito, aquele que ama quer dar-se a si mesmo”.

Para João Paulo II “a fé exige a livre adesão do homem, mas tem de ser proposta. A salvação consiste em crer e acolher o mistério do Pai e do Seu amor, que se manifesta e oferece em Jesus, por meio do Espírito. Assim se cumpre o Reino de Deus, preparado já no Antigo Testamento, realizado por Cristo e em Cristo, anunciado a todos os povos pela Igreja, que atua e reza para que ele se realize de modo perfeito e definitivo”.

 Mas a frente ele afirma que “a libertação e a salvação, oferecidas pelo Reino de Deus, atingem a pessoa humana tanto nas suas dimensões físicas como espirituais. O amor com que Jesus amou o mundo tem a sua expressão suprema, no dom da Sua vida pelos homens (cf. Jo 15, 13), que manifesta o amor que o Pai tem pelo mundo (cf. Jo 3, 16). Por isso a natureza do Reino é a comunhão de todos os seres humanos entre si e com Deus”.

A ressurreição confere à mensagem de Cristo, e a toda a Sua ação e missão, um alcance universal. Os discípulos constatam que o Reino já está presente na pessoa de Jesus, e pouco a pouco vai-se instaurando no homem e no mundo, por uma misteriosa ligação com a Sua pessoa. Sobre o anúncio de Jesus Cristo, com o Qual o Reino se identifica, se concentra a pregação da Igreja primitiva. O Reino de Deus não é um conceito, uma doutrina, um programa sujeito a livre elaboração, mas é, acima de tudo, uma Pessoa que tem o nome e o rosto de Jesus de Nazaré, imagem do Deus invisível. Se separarmos o Reino, de Jesus, ficaremos sem o Reino de Deus por Ele pregado, acabando por se distorcer quer o sentido do Reino, que corre o risco de se transformar numa meta puramente humana ou ideológica, quer a identidade de Cristo, que deixa de aparecer como o Senhor, a Quem tudo se deve submeter (cf. 1 Cor 15, 27).

A Igreja está efetiva e concretamente ao serviço do Reino. Em primeiro lugar, serve-o com o anúncio que chame à conversão: este é o primeiro e fundamental serviço à vinda do Reino para cada pessoa e para a sociedade humana. A Igreja é sacramento de salvação para toda a humanidade; a sua ação não se limita àqueles que aceitam a sua mensagem. Ela é força atuante no caminho da humanidade rumo ao Reino escatológico, é sinal e promotora dos valores evangélicos entre os homens.

A missão da Igreja, tal como a de Jesus, é obra de Deus, ou, usando uma expressão frequente em S. Lucas, é obra do Espírito Santo. Depois da ressurreição e Ascenção de Jesus, os Apóstolos viveram uma intensa experiência que os transformou: o Pentecostes. A vinda do Espírito Santo fez deles testemunhas e profetas (cf. At 1, 8; 2, 17-18), infundindo uma serena audácia, que os leva a transmitir aos outros a sua experiência de Jesus e a esperança que os anima.

O Espírito oferece ao homem “luz e forças que lhe permitem corresponder à sua altíssima vocação”; graças a Ele, “o homem chega, por meio da fé, a contemplar e saborear o mistério dos planos divinos”; mais ainda, “devemos acreditar que o Espírito Santo oferece a todos, de um modo que só Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao mistério pascal”.

A Igreja deve hoje enfrentar outros desafios, lançando-se para novas fronteiras, quer na primeira missão ad gentes, quer na nova evangelização dos povos que já receberam o anúncio de Cristo: A todos os cristãos, às Igrejas particulares e à Igreja universal, pede-se a mesma coragem que moveu os missionários do passado, a mesma disponibilidade para escutar a voz do Espírito.

O Senhor Jesus enviou os Seus Apóstolos, a todas as pessoas, a todos os povos e a todos os lugares da terra. Nos Apóstolos, a Igreja recebeu uma missão universal, sem limites, referindo-se à salvação em toda a sua integridade, segundo aquela plenitude de vida que Cristo veio trazer (cf. Jo 10, 10): ela foi “enviada para manifestar e comunicar a caridade de Deus a todos os homens e povos”.

A missão ad gentes tem à sua frente uma tarefa imensa, que está muito longe de se ver concluída. A tarefa de anunciar Jesus Cristo a todos os povos apresenta-se enorme e desproporcionada relativamente às forças humanas da Igreja. A missão ad gentes, devido ao mandato universal de Cristo, não tem fronteiras. Apesar disso, é possível identificar vários âmbitos, em que ela se concretiza, para ficarmos com um quadro real da situação:

a) Âmbitos territoriais. Normalmente a atividade missionária foi definida em relação a territórios concretos. O multiplicar-se das Igrejas jovens, nos últimos tempos, não deve iludir-nos.

b) Mundos e fenómenos sociais novos. As rápidas e profundas transformações que caracterizam o mundo de hoje, particularmente no Hemisfério Sul, influem decididamente no quadro missionário: onde antes as situações humanas e sociais eram estáveis, hoje tudo está em movimentação.

c) Áreas culturais, ou modernos areópagos. Paulo, depois de ter pregado em numerosos lugares, chega a Atenas e vai ao areópago, onde anuncia o Evangelho, usando uma linguagem adaptada e compreensível para aquele ambiente (Cf. At 17, 22-31).

Se por um lado, parece que os homens vão no encalço da prosperidade material, mergulhando cada vez mais no consumismo materialista, por outro lado, manifesta-se a angustiante procura de sentido, a necessidade de vida interior, o desejo de aprender novas formas e meios de concentração e de oração.

Todas as formas de atividade missionária se caracterizam pela consciência de promover a liberdade do homem, anunciando-lhe Jesus Cristo. A Igreja deve ser fiel a Cristo, já que é o Seu Corpo e continua a Sua missão. A atividade missionária ainda hoje representa o máximo desafio para a Igreja.

A missão é uma realidade unitária, mas complexa; e explica-se de vários modos, alguns do quais são de particular importância, na presente situação da Igreja e do mundo.  A Igreja é chamada a dar o seu testemunho por Cristo, assumindo posições corajosas e proféticas, face à corrupção do poder político ou económico; não correndo ela própria atrás da glória e dos bens materiais; usando os seus bens para o serviço dos mais pobres e imitando a simplicidade de vida de Cristo.

Sendo feito em união com toda a comunidade eclesial, o anúncio nunca é um fato pessoal. O missionário está presente e atuante em virtude de um mandato recebido, pelo que, mesmo se estiver sozinho, sempre viverá coligado, através de laços invisíveis, mas profundos, à atividade evangelizadora de toda a Igreja. Os ouvintes, mais cedo ou mais tarde, entreveem, por detrás dele, a comunidade que o enviou e o apoia.

Os Apóstolos, movidos pelo Espírito Santo, convidaram todos a mudarem de vida, a converterem-se e a receberem o baptismo. A conversão e o baptismo inserem na Igreja, onde ela já existe, ou então implicam a constituição de novas comunidades, que confessem Jesus Senhor e Salvador.

Antes de mais, é necessário procurar estabelecer em cada lugar comunidades cristãs, que sejam “sinal da presença divina no mundo” e cresçam até se tornarem Igrejas. Não obstante o elevado número de dioceses, existem ainda vastas áreas onde as Igrejas locais não se encontram, ou são insuficientes relativamente à vastidão do território e à densidade da população: está ainda por realizar um grande trabalho de implantação e de desenvolvimento da Igreja.

O Senhor chama-nos constantemente a sairmos de nós próprios, a partilhar com os outros os bens que temos, começando pelo mais precioso, que é a fé. À luz deste imperativo missionário, dever-se-á medir a validade dos organismos, movimentos, paróquias e obras de apostolado da Igreja. Somente tornando-se missionária é que a comunidade cristã conseguirá superar divisões e tensões internas, e reencontrar a sua unidade e vigor de fé.

A atividade ecumênica e o testemunho comum de Jesus Cristo, dado pelos cristãos pertencentes a diversas Igrejas e comunidades eclesiais, produziu já abundantes frutos, mas é ainda mais urgente que colaborem e testemunhem de comum acordo, neste tempo em que seitas cristãs e para cristãs semeiam a confusão com a sua ação.

Um fenómeno, com crescimento rápido nas jovens Igrejas, promovido pelos bispos ou mesmo pelas Conferências episcopais, por vezes como opção prioritária da pastoral, são as comunidades eclesiais de base (conhecidas também por outros nomes), que estão a dar boas provas como centros de formação cristã e de irradiação missionária.

A inculturação, em seu correto desenvolvimento, deve ser guiada por dois princípios: “a compatibilidade com o Evangelho e a comunhão com a Igreja universal”. Os Bispos, defensores do depósito da fé, velarão pela fidelidade e, sobretudo, pelo discernimento, para o qual se requer um profundo equilíbrio: de facto corre-se o risco de se passar acriticamente de um alheamento da cultura para uma sobrevalorização da mesma, que não deixa de ser um produto do homem e, como tal, está marcada pelo pecado.

O diálogo inter-religioso faz parte da missão evangelizadora da Igreja. Ao diálogo, abre-se um vasto campo, podendo ele assumir múltiplas formas e expressões: desde o intercâmbio entre os peritos de tradições religiosas ou com seus representantes oficiais, até à colaboração no desenvolvimento integral e na salvaguarda dos valores religiosos; desde a comunicação das respectivas experiências espirituais, até ao denominado “diálogo de vida”, pelo qual os crentes das diversas religiões mutuamente testemunham, na existência quotidiana, os próprios valores humanos e espirituais, ajudando-se a vivê-los em ordem à edificação de uma sociedade mais justa e fraterna.

A missão ad gentes desenvolve-se ainda hoje, na sua maior parte, nas regiões do hemisfério Sul, onde é mais urgente a ação em favor do desenvolvimento integral e da libertação de toda a opressão.

Com a mensagem evangélica, a Igreja oferece uma força libertadora e criadora de desenvolvimento, exatamente porque leva à conversão do coração e da mentalidade, faz reconhecer a dignidade de cada pessoa, predispõe à solidariedade, ao compromisso e ao serviço dos irmãos, insere o homem no projeto de Deus, que é a construção do Reino de paz e de justiça, já a partir desta vida.

Não existe testemunho sem testemunhas, como não há missão sem missionários. Com a finalidade de colaborem na Sua missão e continuarem a Sua obra salvífica, Jesus escolhe e envia pessoas como Suas testemunhas e apóstolos: “Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins do mundo” (At 1, 8 ) .

Entre os agentes da pastoral missionária, hoje como no passado, ocupam um lugar de importância fundamental, aquelas pessoas e instituições às quais o Decreto Ad Gentes dedica um capítulo, especial sob o título: os missionários.

Os Institutos Missionários devem empregar todos os recursos necessários, tirando proveito da sua experiência e criatividade na fidelidade ao seu carisma originário, para prepararem adequadamente os candidatos, e assegurarem o restabelecimento das energias espirituais, morais e físicas dos seus membros.

A vocação especial dos missionários ad vitam, isto é, por toda a vida, mantém toda a sua validade: representa o paradigma do compromisso missionário da Igreja, que sempre tem necessidade de doações radicais e totais, de impulsos novos e corajosos.

a) Seguindo o Concílio, convido os Institutos de vida contemplativa a estabelecer comunidades nas jovens Igrejas, para prestarem « entre os não cristãos um magnífico testemunho da majestade e da caridade de Deus, bem como da união estabelecida em Cristo ».

b) Aos Institutos de vida ativa, aponto os espaços imensos da caridade, do anúncio evangélico, da educação cristã, da cultura, e da solidariedade com os pobres, os discriminados, os marginalizados e os oprimidos.

 A missão é de todo o Povo de Deus: se é verdade que a fundação de uma nova Igreja requer a Eucaristia, e, por conseguinte, o ministério sacerdotal, todavia a missão, que comporta as mais variadas formas, é tarefa de todos os fiéis.

O primeiro campo (...) é o mundo vasto e complicado da política, da realidade social, da economia, 152 no plano local, nacional e internacional. No âmbito da Igreja, existem vários tipos de serviços, funções, ministérios e formas de animação da vida cristã. Recordo, como novidade surgida recentemente em bastantes Igrejas, o grande desenvolvimento dos Movimentos eclesiais, dotados de dinamismo missionário.

Ao lado dos catequistas, é preciso recordar outras formas de serviço à vida da Igreja e à missão, e por conseguinte outros operadores: animadores da oração, do canto e da liturgia; chefes de comunidades eclesiais de base e de grupos bíblicos; encarregados das obras caritativas; administradores dos bens da Igreja; dirigentes das várias associações de apostolado; professores de religião nas escolas. Membros da Igreja por força do batismo, todos os cristãos são corresponsáveis pela atividade missionária. A participação das comunidades e dos indivíduos cristãos neste direito-dever é chamada cooperação missionária. A participação na missão universal, portanto, não se reduz a algumas atividades isoladas, mas é o sinal da maturidade da fé e de uma vida cristã que dá fruto.

Entre as várias formas de participação, ocupa o primeiro lugar a cooperação espiritual: oração, sacrifício, testemunho de vida cristã. A oração deve acompanhar os passos dos missionários, para que o anúncio da Palavra se torne eficaz pela graça divina.

A Igreja missionária dá aquilo que recebe, distribui aos pobres aquilo que os seus filhos mais dotados de bens materiais lhe põem generosamente à disposição. Neste momento, desejo agradecer a todos quantos, com sacrifício, contribuem para a obra missionária: as suas renúncias e a sua participação são indispensáveis para construir a Igreja e testemunhar a caridade.

A responsabilidade das Obras Missionárias Pontifícias lhes compete o dever primeiro. As quatro Obras - Propagação da Fé, S. Pedro Apóstolo, Santa Infância e União Missionária - têm em comum o objetivo de promover o espírito missionário universal, no seio do Povo de Deus.

Cooperar para a missão, não significa apenas dar, mas também saber receber. Todas as Igrejas particulares, jovens e antigas, são chamadas a dar e a receber da missão universal, e nenhuma se deve fechar em si própria. A atividade missionária exige uma espiritualidade específica, que diz respeito de modo particular, a quantos Deus chamou a serem missionários. Ao missionário, pede-se que “renuncie a si mesmo e a tudo aquilo que antes possuía como seu, e se faça tudo para todos”: na pobreza que o torna livre para o Evangelho, no distanciar-se de pessoas e bens do seu ambiente originário para se fazer irmão daqueles a quem é enviado, levando-lhes Cristo salvador. A espiritualidade do missionário conduz a isto: “com os fracos, fiz-me fraco (...) Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a todo o custo. Tudo faço pelo Evangelho...” (1 Cor 9, 22-23 ) .

A espiritualidade missionária caracteriza-se, além disso, pela caridade apostólica - a de Cristo que veio “para trazer à unidade os filhos de Deus que andavam dispersos” (Jo 11, 52), o Bom Pastor que conhece as suas ovelhas, procura-as e oferece a sua vida por elas (cf. Jo 10).

Todo o missionário só o é autenticamente, se se empenhar no caminho da santidade: “a santidade deve-se considerar um pressuposto fundamental e uma condição totalmente insubstituível para se realizar a missão de salvação da Igreja”.

O missionário é o homem das Bem-aventuranças. Na verdade, no “discurso apostólico” (cf. Mt 10), Jesus dá instruções ao Doze, antes de os enviar a evangelizar, indicando-lhes os caminhos da missão: pobreza, humildade, desejo de justiça e paz, aceitação do sofrimento e perseguição, caridade que são precisamente as Bem-aventuranças, concretizadas na vida apostólica (Mt 5, 1-12).


Tags: Papa, vaticano, igreja, catolicismo, João Paulo II, encíclica






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