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10 de dezembro de 1825.

Guerra da Cisplatina: Brasil declara guerra à Argentina

O Juramento dos Treinta y Três Orientales, 1877.

A Guerra da Cisplatina ou campanha da Cisplatina (língua espanhola: Guerra del Brasil) foi um conflito ocorrido entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata, no período de 1825 a 1828, pela posse da Província Cisplatina, a região da atual República Oriental do Uruguai. Na historiografia argentina é denominada como Guerra do Brasil ou Guerra Contra o Império do Brasil.

Foi o primeiro de quatro conflitos armados internacionais em que o Brasil lutou pela supremacia sul-americana, tendo o segundo sido a Guerra do Prata, o terceiro a Questão Uruguaia e o último a Guerra do Paraguai. Juntos, integram o conjunto das Questões Platinas, na História das Relações Internacionais do Brasil.

O termo Cisplatina (cis, aquém, da parte de cá de + platina, relativa ao rio da Prata), indica a localização geográfica do território da antiga província, a Leste daquele rio; em castelhano era conhecida como Província Oriental del Río de la Plata, constituindo-se no atual Uruguai.

Localizada na entrada do estuário do Rio da Prata, a Província Oriental era uma área estratégica, já que quem a controlava tinha grande domínio sobre a navegação em todo o rio, acesso aos rios Paraná e Paraguai, e via de transporte da prata andina.

Antecedentes

A região era disputada pelas coroas de Portugal e da Espanha desde a fundação da Colônia do Santíssimo Sacramento (1680), pelos portugueses, sendo objeto de vários tratados territoriais, dos quais os principais foram o Tratado de Madrid (1750), o Tratado de Santo Ildefonso (1777) também chamado Tratado dos Limites, por ter decidido a posse do território aos espanhóis, e o Tratado de Badajoz (1801).

Na posse espanhola, com a independência da Províncias Unidas do Rio da Prata, constituiu-se em território daquele país até 1816 quando foi invadida pelo general Carlos Frederico Lecor, comandante da Divisão de Voluntários Reais do Príncipe, para a coroa portuguesa, na Guerra contra Artigas. Ali desenvolveu uma inteligente política de ocupação, com a fundação das Escolas Mútuas do Método Lancaster e o apoio às elites Orientais. Em 31 de julho de 1821, foi incorporado ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves pelo príncipe-regente português, com o nome de Província Cisplatina. A anexação foi justificada, à época, pelos alegados direitos sucessórios que sua esposa, a rainha Carlota Joaquina, teria sobre a região.

A província aceitou fazer parte do Império do Brasil, inclusive enviando deputados para a Constituinte de 1823 (e antes mesmo para as Cortes em 1822). Contudo, trinta e dois nativos da província liderados por Juan Antonio Lavalleja revoltaram-se contra o Brasil e declaram a união da Cisplatina com as Províncias Unidas do Rio da Prata (futura Argentina). Tal insurreição fora possível graças à colaboração material e financeira por parte das Províncias Unidas. Tal atentado contra a soberania brasileira por parte de uma nação estrangeira foi revidada por uma declaração formal de guerra em 10 de dezembro de 1825. Apesar de deter um exército com mais de 26 mil homens e uma poderosa marinha de guerra, o Brasil foi incapaz de derrotar as forças rebeldes da Cisplatina e as tropas das Províncias Unidas.

O conflito

Alimentando pretensões de recuperar o território da Província Oriental ou Cisplatina as Províncias Unidas do Rio da Prata ajudaram os patriotas orientais (uruguaios), liderados por Juan Antonio Lavalleja, a que se levantassem contra a dominação brasileira na região. Para esse fim, os argentinos ofereciam-lhes apoio político, além de suprimentos de boca e de guerra. O conflito acabou eclodindo em 1825, quando líderes militares orientais, como Lavalleja e Fructuoso Rivera proclamaram a independência da região. Lavalleja desembarcou com suas forças na praia da Agraciada e, com o apoio da população, declarou a incorporação da Província Oriental às Províncias Unidas do Rio da Prata. Em resposta, em 10 de dezembro de 1825, o governo imperial brasileiro declarou guerra às Províncias Unidas, que retribuíram a declaração de guerra em 1º de janeiro de 1826.

Desenrolar da guerra

Para apoiar as forças de Juan Antonio Lavalleja, um exército argentino atravessou o Rio da Prata, estabelecendo acampamento em Durazno, iniciando uma invasão do território brasileiro pelo general Carlos Maria de Alvear (1826). O visconde de Barbacena, no comando das tropas imperiais, deu combate aos argentinos na Batalha de Ituzaingó.

Em apoio ao Exército Brasileiro, o imperador Pedro I enviou uma esquadra para bloquear o estuário do rio da Prata, assim como o porto de Buenos Aires. A Argentina revidou, atacando o litoral do Rio Grande do Sul. Contudo, a pressão da Marinha do Brasil conseguiu, com o tempo, estrangular o comércio argentino.

O Império Brasileiro iniciou a ofensiva terrestre a partir do final de 1826, por meio da concentração de tropas no sul do país. Essas tropas eram formadas, em sua maioria, por voluntários e por algumas unidades de mercenários europeus. As tropas brasileiras, preparadas para batalhas convencionais, foram incapazes de fazer frente às tropas gaúchas que utilizavam táticas que atualmente seriam consideradas de guerrilha. O Exército Brasileiro manteve sua presença nas cidades e vilas da Cisplatina, mas não encontrava maneiras de desferir um golpe certeiro no inimigo que preferia atuar de maneira inconsistente na região rural. No campo estratégico e político, Pedro viu a oposição dos liberais federalistas ao conflito, que manipulavam a opinião pública culpando o monarca pela guerra. Para os federalistas que defendiam os interesses dos fazendeiros escravocratas e dominavam a Assembleia, a guerra não lhes importava, pois a Cisplatina possuía uma terra imprópria para o cultivo de café e cana-de-açúcar.

Pedro I viu-se numa situação delicada, pois os políticos ao invés de colaborarem com o esforço de guerra para defender os interesses da nação, faziam justamente o contrário, por interesses pessoais e políticos. Dificultavam o envio de ajuda material e financeira para as tropas no teatro de guerra ao recusarem os pedidos do Executivo. As províncias também não enviavam voluntários suficientes e assim a guerra se estendeu em prejuízo do Império, que se via em graves dificuldades financeiras.

O imperador partiu para o teatro de operações para tentar resolver o problema por si só, visto que não conseguia o apoio dos políticos. Iniciou sua viagem em 29 de novembro de 1826, em seguida desembarcou na província de Santa Catarina e realizou um longo percurso por terra por mais de quatrocentos quilômetros a cavalo até atingir Porto Alegre, na província do Rio Grande do Sul em 7 de dezembro de 1826. Pedro encontrou o Exército Brasileiro desmoralizado, sem recursos e sem qualquer perspectiva de tomar iniciativa. Imediatamente demitiu os oficiais incompetentes e corruptos, e reorganizou as tropas, assim como a administração civil e militar. Não teve como ficar muito tempo, pois ao receber a notícia do falecimento de Leopoldina, retornou ao Rio de Janeiro no início de 1827.

A falta de tropas atrasou em muito a capacidade de resposta brasileira ao apoio de Buenos Aires ao levante no Sul. Por volta de 1826, esse apoio não era mais somente político e logístico: já havia a convocação de tropas para lutar contra o Império. A guerra foi marcada por diversos encontros de pequena monta e por escaramuças de grupos armados de ambos os lados. Estes encontros em nada contribuíram para a solução do impasse político e militar.

Somente as batalhas de Sarandi e Passo do Rosário se constituíram em encontros militares de maior vulto. Em ambas, o exército imperial foi derrotado. Contudo, graças à falta de recursos humanos e logísticos também por parte das Províncias Unidas como da Banda Oriental, para explorarem estas vitórias, elas foram de pouco proveito.

A guerra prosseguiu, por terra e mar, com vantagem para as forças imperiais, que derrotaram as forças republicanas na decisiva Batalha de Monte Santiago (1827). Na primeira metade d de 1828, Fructuoso Rivera ocupou a Província Oriental (e para as Províncias Unidas) o Território dos Sete Povos das Missões que havia passado ao Império Português em 1801 (ver Tratado de Badajoz 1801).

No campo naval, em meados de 1828, quando foi celebrada a paz, o historiador militar britânico Brian Vale refere que as Províncias Unidas contavam com poucos barcos para o corso. A marinha brasileira, por sua vez, repôs suas perdas e ainda tinha 65 barcos armados, com 12.000 oficiais e soldados, e cada vez mais eram enviados ao sul. Embora tenham as Províncias Unidas lutado com engenho e habilidade, quando foi celebrada a paz, em meados de 1828, a marinha brasileira havia assegurado o domínio militar, na parte naval. O bombardeio de Buenos Aires estava nos planos da marinha brasileira, que já havia, a mando do comandante Pinto Guedes, feito um ensaio, em 1º de fevereiro de 1828, e preparativos continuaram em abril, quando a mediação britânica, para entabular a paz, foi aceita.

Dado o impasse em terra (Montevidéu e Colônia do Sacramento, as duas maiores cidades do Uruguai permaneceram sob o controle do Brasil durante todo o conflito), o bloqueio naval brasileiro (que impunha consequências econômicas severas às Províncias Unidas), e mar, os altos custos para os beligerantes da continuação da guerra, a pressão britânica para que um acordo fosse firmado, além da precariedade militar e política dos países em conflito, a paz começou a ser negociada, com a mediação da França e da Grã-Bretanha.

O tratado de paz entre o Brasil e as Províncias Unidas veio logo após, em 27 de agosto de 1828, ao preço da perda da província Cisplatina (que se tornou o Uruguai), mais de 30 milhões de dólares em gastos e 8 mil brasileiros mortos.

Pedro I teve sua imagem abalada profundamente pelo término do conflito que custou vidas e recursos desnecessariamente e foi culpado pelo desmembramento do território. Por sua vez, o imperador percebeu claramente que não poderia confiar nos liberais federalistas, que mais uma vez causaram mortes que poderia ter sido evitadas graças à defesa de seus próprios interesses em detrimento dos da Nação (a semelhança do que ocorreu na Confederação do Equador que foi iniciada durante a Guerra da Independência). A Guerra da Cisplatina teve um papel importante na abdicação de Pedro I, ao colaborar com o aumento do seu desprestígio.

Consequências

A perda da Província Cisplatina foi um motivo adicional para o crescimento da insatisfação popular com o governo de D. Pedro I. Na realidade, a guerra era impopular desde o início, pois para muitos brasileiros representava aumento de impostos para o financiamento de mais um conflito.

Quando o Império do Brasil assinou o acordo pela independência da região, muitos utilizaram isto como argumento para tornar ainda mais impopular o governo, alegando que o imperador havia depauperado os cofres públicos e sacrificado a população por uma causa perdida.

Entretanto, a guerra da Cisplatina não foi uma causa direta para a abdicação do imperador em 7 de abril de 1831. Ela se insere dentro de uma conjuntura política e social interna que concorreu para a sua queda. Dentre as causas da abdicação, sem dúvida, o estilo centralizador de governar foi o principal.

Fonte: Wikipédia


Tags: Guerra, Cisplatina, Brasil, Argentina, Uruguai, Rio da Prata, Colônia do Sacramento






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