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03 de janeiro de 1962.

O Papa João XXIII excomungou Fidel Castro

São João XXIII, 261º Papa da Igreja Católica

São João XXIII, OFS, nascido Angelo Giuseppe Roncalli (Sotto Il Monte, 25 de novembro de 1881 — Vaticano, 3 de junho de 1963) foi o 261º Papa da Igreja Católica Apostólica Romana eleito em 28 de outubro de 1958. Morreu em 3 de junho de 1963.

Pertencia à Ordem Franciscana Secular (OFS) e escolheu como lema papal: Obediência e Paz.

Sendo um sacerdote católico desde 10 de agosto de 1904, ele iniciou a sua vida sacerdotal em Itália, onde foi secretário particular do bispo de Bérgamo D. Giacomo Radini-Tedeschi (1905-1914), professor do Seminário de Bérgamo e estudioso da vida e obra de São Carlos Borromeu, capelão militar do Exército italiano durante a Primeira Guerra Mundial e presidente italiano do "Conselho das Obras Pontifícias para a Propagação da Fé" (1921-1925). Em 1925, sendo já um arcebispo-titular, iniciou-se a sua longa carreira diplomática, onde o levou à Bulgária como visitador apostólico (1925-1935), à Grécia e Turquia como delegado apostólico (1935-1944) e à França como núncio apostólico (1944-1953). Em todos estes países, ele destacou-se pela sua enorme capacidade conciliadora, pela sua maneira simples e sincera de diálogo, pelo seu empenho ecumênico e pela sua bondade corajosa em salvar judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Em 12 de janeiro de 1953, foi nomeado cardeal e Patriarca de Veneza.


Angelo Roncalli enquanto Cardeal-Patriarca de Veneza (1953-1958).

Foi eleito Papa no dia 28 de outubro de 1958. Considerado inicialmente um Papa de transição, depois do longo pontificado de Pio XII, ele convocou, para surpresa de muitos, o Concílio Vaticano II, que visava a renovação da Igreja e à formulação de uma nova forma de explicar pastoralmente a doutrina católica ao mundo moderno. No seu curto pontificado de cinco anos escreveu oito encíclicas, sendo as principais a Mater et Magistra (Mãe e Mestra) publicada em 15 de maio de 1961, e a Pacem in Terris (Paz na Terra) publicada em 11 de Abril de 1963, dois meses antes da morte de João XXIII.

Devido à sua bondade, simpatia, sorriso, jovialidade e simplicidade, João XXIII era aclamado e elogiado mundialmente como o "Papa bom" ou o "Papa da bondade". Mas, mesmo assim, vários grupos minoritários de católicos tradicionalistas acusavam-no de ser maçom, radical esquerdista e herege modernista por ter convocado o Concílio Vaticano II e promovido a liberdade religiosa e o ecumenismo. Ele foi declarado Beato pelo Papa João Paulo II no dia 3 de setembro de 2000. É considerado o patrono dos delegados pontifícios e a sua festa litúrgica é celebrada no dia 11 de outubro. Foi canonizado em 27 de abril de 2014, domingo da Divina Misericórdia, juntamente com o também Papa João Paulo II. A missa de canonização foi presidida pelo Papa Francisco e concelebrada pelo Papa Emérito Bento XVI.

Início

Angelo Giuseppe Roncalli nasceu e foi batizado em Sotto il Monte (província de Bérgamo, Itália), no dia 25 de novembro de 1881. Era o terceiro filho duma família agrícola pobre e numerosa. Devido à fervorosa vida religiosa da família e da sua paróquia local, Roncalli acabou por ingressar no Seminário de Bérgamo. Ali, ele começou a escrever o seu "Diário da Alma" (ou Jornal da Alma), um livro autobiográfico muito famoso onde estão reunidos os seus escritos espirituais, datados entre 1895 a 1961. Em 23 de maio de 1897, ele professou a regra da Ordem Franciscana Secular. Entre 1901 e 1905, devido a uma bolsa de estudos da Diocese de Bérgamo, ele conseguiu ser aluno do Pontifício Seminário Romano.

Finalmente, após vários anos de estudo, Roncalli doutorou-se em teologia e foi ordenado sacerdote católico em Roma, no dia 10 de agosto de 1904. Em 1905, foi nomeado secretário do então Bispo de Bérgamo, D. Giacomo Radini-Tedeschi, que o influenciou na sua maneira de lidar com as questões sociais. Durante estes anos em Bérgamo, Roncalli foi também professor do Seminário de Bérgamo e aprofundou-se no estudo da vida e da obra de São Carlos Borromeu, de São Francisco de Sales e do Beato Gregório Barbarigo (este último foi canonizado por ele em 1960). Este estudo aprofundado levou-o a editar os documentos arquivados de Carlos Borromeu, que tinha participado como arcebispo de Milão no Concílio de Trento. Este projeto, que demorou muitos anos, visto que o último volume destes documentos só foi publicado em 1957, levou-o a perceber mais sobre a dinâmica conciliar e a compreender que o Concílio de Trento era mais reformista do que antiprotestante.

Em 1915, quando a Itália entrou na Primeira Guerra Mundial, ele foi alistado como sargento do corpo médico e capelão militar dos soldados feridos. Em 1919, foi nomeado diretor espiritual do Seminário de Bérgamo. Em 1921, o Papa Bento XV nomeou-o presidente italiano do "Conselho das Obras Pontifícias para a Propagação da Fé". No exercício deste cargo, Roncalli visitou muitas dioceses da Itália, organizou vários círculos missionários, estabeleceu contatos com várias ordens missionárias e compreendeu melhor a dinâmica e situação das missões católicas espalhadas pelo mundo. Devido ao seu sucesso nesta obra pontifícia, mas especialmente devido ao seu projeto de estudo relacionado com Carlos Borromeu, ele tornou-se amigo de Achilles Ratti, o futuro Papa Pio XI.

Segunda Guerra Mundial e judeus

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Roncalli, sediado na Turquia neutra, conseguiu salvar muitos judeus com a distribuição gratuita de permissões de trânsito fornecidas pela Delegação Apostólica, de certificados de batismo temporários e de certificados de imigração para a Palestina arranjados por organizações judaicas. Ele teve pela primeira vez um vago conhecimento do sofrimento dos judeus em Setembro de 1940, quando contatou e ajudou refugiados judeus vindos da Polônia a alcançarem a Palestina, naquela época um território sob mandato britânico. Desde então, fez inúmeras tentativas, umas infrutíferas e outras bem sucedidas, para ajudar e salvar judeus de diversos países e regiões, tais como a Hungria, a Romênia, a Transnistria, a Itália, a França, a Alemanha, a Eslováquia, a Croácia, a Grécia e a Bulgária, onde intercedeu a favor dos judeus junto do Rei Bóris III da Bulgária. Além disso, continuou também a ajudar corajosamente os refugiados judeus que conseguiram chegar à Turquia a alcançarem a Palestina. Para tal, cooperou com diversas pessoas de boa vontade, nomeadamente Chaim Barlas, representante da Agência Judaica em Istambul, Rabino Chefe Yitzhak HaLevi Herzog (ou Isaac Herzog) e Ira Hirschmann, delegado norte-americano do "War Refugee Board" em Istambul.


Monumento ao Papa João XXIII, no exterior da Igreja de Santo Antônio de Pádua, em Istambul.

Muito mais do que notificar a dramática situação e transmitir pedidos de Barlas e outros ao Vaticano, uma das suas ações humanitárias mais importantes foi coordenar o envio, através de agentes judaicos da Palestina e dos correios e representantes diplomáticos da Santa Sé, de milhares de vistos turcos, certificados de imigração e certificados de batismo temporários para vários clérigos e religiosos católicos residentes na Hungria, tais como as irmãs da Congregação de Nossa Senhora do Sião e o Arcebispo Angelo Rotta, núncio apostólico em Budapeste e colaborador do diplomata sueco Raoul Wallenberg. Em seguida, eles distribuíam estes documentos para os judeus húngaros, com o objetivo de lhes permitirem fugir para a Palestina através da Turquia ou simplesmente sobreviverem na Hungria, ocupada pelos alemães em 1944, visto que os nazistas geralmente não prendiam os judeus batizados ou protegidos pela Igreja Católica, por respeito pela neutralidade da Santa Sé. A distribuição gratuita e massiva de certificados de batismo, muitos deles falsos e independentemente se os seus beneficiários receberam ou não o batismo, foi idealizada por Roncalli e apoiada por Ira Hirschmann. Ele inspirou-se em alegados casos de algumas freiras da Congregação de Nossa Senhora do Sião que já distribuíam secretamente estes certificados aos judeus húngaros. Os clérigos húngaros também emitiram os seus próprios certificados de batismo e Angelo Rotta, além de emitir também mais de quinze mil permissões de trânsito e salvos-condutos, protegeu pessoalmente várias casas seguras em Budapeste que alojavam judeus. Por causa deste enorme esforço conjugado, em Fevereiro de 1945, quando Budapeste foi ocupada pelos soviéticos, cerca de 100 mil judeus conseguiram sobreviver à ocupação alemã, ou seja, cerca de metade da população judia da Hungria. No final da Guerra, estimou-se também que se salvaram entre 24 mil a 80 mil judeus só com os certificados de batismo.

Roncalli até conseguiu a ajuda do embaixador alemão Franz von Papen na sua missão de salvar judeus: segundo o seu testemunho escrito ao Tribunal de Nuremberg, Roncalli afirmou que von Papen deu-lhe a possibilidade de salvar a vida de 24 mil judeus. Por isso, em reconhecimento deste trabalho humanitário, a Fundação Internacional Raoul Wallenberg defende, desde o ano 2000, a atribuição do prêmio Justo entre as nações a Roncalli, cujas ações humanitárias estão a ser investigadas e estudadas com mais pormenor por esta fundação.

Eleição

Na sequência da morte do Papa Pio XII, em 9 de outubro de 1958, realizou-se rapidamente um conclave, onde se reuniram os cardeais-eleitores para escolherem um novo Papa. Ao contrário do que se sucedeu no conclave de 1939 (onde Pio XII foi quase unanimamente eleito Papa), o conclave de 1958 tinha vários candidatos favoritos (ou papabiles). Devido a este fato, os cardeais-eleitores procuraram escolher um candidato idoso e de compromisso, acabando assim por eleger Angelo Roncalli, que era precisamente um homem modesto e idoso (já tinha 77 anos). Por esta razão, ele era apenas considerado um Papa "de transição".

Assim sendo, Angelo Roncalli foi eleito Papa em 28 de outubro de 1958, na 11ª votação, e tomou o nome papal de João XXIII (Ioannes PP. XXIII, pela grafia latina). Perante os cardeais, ele justificou a sua escolha da seguinte maneira:

Eu escolho João... um nome doce para Nós, pois é o nome do nosso pai; querida para mim, porque é o nome da humilde igreja paroquial onde fui baptizado; o nome solene de inúmeras catedrais espalhadas pelo mundo, incluindo a nossa própria basílica. Vinte e dois Joões [ou Joãos] de legitimidade indiscutível tivemos, e quase todos tiveram um breve pontificado. Nós temos preferido esconder a pequenez do nosso nome por trás desta magnífica sucessão de Romanos Papas.

Apesar dos seus argumentos, a escolha desse nome causou surpresa. Isto porque, afinal, o último papa a chamar-se João fora o francês Jacques D'Euse, ainda na Idade Média (Papa João XXII); e ainda porque existiu, também na Idade Média, um antipapa com o nome de João XXIII.

Pontificado

Seu pontificado teve início no dia 4 de novembro de 1958, data escolhida por ele para coincidir com a festa litúrgica de São Carlos Borromeu. No seu curto pontificado de cinco anos, João XXIII convocou precisamente cinco consistórios, criando ao todo mais de 50 cardeais e quase duplicando o número de membros do Colégio dos Cardeais. No primeiro consistório (1958), ele elevou o Arcebispo Montini (um candidato favorito no conclave de 1958) a Cardeal, tornando-o apto para o próximo conclave (de fato, Montini iria tornar-se no Papa Paulo VI). Quando foi eleito Papa, João XXIII insistiu que Domenico Tardini fosse seu secretário de Estado, mesmo sabendo que ele não gostava muito de si. Tardini, que trabalhou durante muitos anos na Cúria Romana, ficou muito admirado e surpreendido com esse gesto generoso do Papa.

Tendo já desde cedo um espírito de tolerância e de ecumenismo, João XXIII procurou cooperar e dialogar com outras crenças e religiões, nomeadamente com os protestantes, os ortodoxos, os judeus, os anglicanos e até com os xintoístas. Neste campo, ele recebeu em audiência privada grupos de judeus, o arcebispo da Cantuária, um representante da Igreja da Escócia e um importante sacerdote xintoísta. Ele criou inclusivamente, em 1960, o Secretariado para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que tinha por função recompor a unidade entre os cristãos separados. Durante o seu pontificado, ele instituiu também uma Comissão para a revisão do Código de Direito Canônico e convocou, em 1960, o primeiro sínodo da Diocese de Roma. Ele também retirou da liturgia de Sexta-feira Santa as duras expressões relativas aos judeus e inaugurou uma nova era de relacionamento e diálogo judaico-católico. Ele também influenciou a composição da declaração Nostra Aetate, aprovada pelo Concílio Vaticano II após a sua morte e que trata essencialmente das relações da Igreja Católica com os não-cristãos, particularmente os judeus. Neste documento, a Igreja rejeitou de vez as acusações de deicídio ao povo judaico e condenou o antissemitismo.

Em 1959, João XXIII, através do documento Dubium do Santo Ofício, confirmou o Decreto contra o Comunismo, aprovado pelo Papa Pio XII em 1º de julho de 1949, que proibia os católicos de defenderem o comunismo ou de votarem em candidatos, organizações ou partidos comunistas ou aliados de comunistas.

Segundo fontes tradicionalistas, baseado neste decreto, Fidel Castro, que instaurou o comunismo em Cuba, foi por isso excomungado no dia 3 de janeiro de 1962 por João XXIII. Contudo, a excomunhão de Castro é ainda imersa em divergência, em face do caráter francamente diplomático assumido pelo Papa, havendo quem afirme (o que seria corroborado por relatos de seu secretário particular, Loris Capovilla) que este fato nunca teria ocorrido. Fortalece esta conclusão o fato de o Papa ter recebido e dialogado, em 1963, com a filha e o genro de Khrushchev (líder da União Soviética), numa tentativa de diminuir as tensões entre a Igreja Católica e a União Soviética. Com um grande amor à Turquia, foi justamente durante o seu pontificado que este país estabeleceu relações diplomáticas com a Santa Sé, em 1960. Para tal, muito contribuiu a sua longa e exemplar estadia na Turquia, onde deixou amigos e abundantes impressões positivas acerca da sua pessoa. Por isso, passou também a ser apelidado de "Papa turco".

Em 1962, durante a Crise dos Mísseis em Cuba, o Papa pediu a todos os governantes do mundo para se esforçarem a salvaguardar a paz, que é querida pela humanidade. Algumas pessoas acreditam que esta mensagem, difundida pela Rádio Vaticano, teve muita importância na diminuição de tensões entre a União Soviética e os Estados Unidos e na consequente decisão de Khrushchev de iniciar o diálogo com os EUA. Em reconhecimento pelo seu trabalho em prol da paz e da humanidade, João XXIII foi agraciado com o Prêmio Balzan, que lhe foi entregue no dia 10 de maio de 1963. Em dezembro de 1963, ele foi também condecorado postumamente com a Medalha Presidencial da Liberdade, atribuída pelo presidente norte-americano Lyndon Johnson. O Papa João XXIII também tornou-se a Pessoa do Ano de 1962.

Apesar de ter um pontificado curto, que durou menos de cinco anos, João XXIII é considerado um dos mais populares e amados Papas, não só dentro da Igreja Católica, mas também por entre os não-católicos. Ele deixou para o mundo uma imagem de "bom Pastor" que quer abraçar e amar todos os homens (quer eles sejam católicos ou não). A Santa Sé caracterizou João XXIII como um Papa "manso e atento, empreendedor e corajoso, simples e cordial, [que] praticou cristãmente as obras de misericórdia corporais e espirituais, […] recebendo homens de todas as nações e crenças e cultivando um extraordinário sentimento de paternidade para com todos. […] Sustentava-o um profundo espírito de oração, e a sua pessoa, iniciadora duma grande renovação na Igreja, irradiava a paz própria de quem confia sempre no Senhor". Durante as celebrações dos 50 anos da eleição de João XXIII (2008), o Papa Bento XVI afirmou que "a fé em Cristo e na Igreja foi o segredo que fez do beato João XXIII uma figura mundial da paz".

João XXIII acreditava que a Igreja Católica não devia ser só uma instituição com leis e doutrinas, mas que devia ser, acima de tudo, uma autêntica comunhão do gênero humano com o amor de Deus. Ele também acreditava que a renovação da Igreja era necessária e fruto da atuação sobrenatural do Espírito Santo sobre a Igreja. Esta sua convicção e confiança na ação do Espírito Santo, ou seja, na Divina Providência, deu-lhe coragem e determinação em convocar o Concílio Vaticano II (1962-1965), cuja ideia ele afirmava ser uma inspiração súbita do Espírito Santo.

O Concílio Vaticano II

João XXIII inaugurou em 1962 um concílio ecumenico - o Concílio do Vaticano II - menos de 90 anos após o último (Concílio Vaticano I, convocado por Pio IX para afirmar o dogma da infalibilidade papal). Mas, a intenção em realizar este concílio foi já anunciado por João XXIII no dia 25 de janeiro de 1959.

João XXIII idealizou o Concílio Vaticano II "como um «novo Pentecostes» […]; uma grande experiência espiritual que reconstituiria a Igreja Católica" não apenas como instituição, mas sim "como um movimento evangélico dinâmico […]; e uma conversa aberta entre os bispos de todo o mundo sobre como renovar o Catolicismo como estilo de vida inevitável e vital". O próprio Papa João XXIII afirmou que "o que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz". Para satisfazer esta sua intenção, João XXIII queria ardentemente que a Igreja mudasse de mentalidade e adoptasse uma postura mais positiva e ativa, para poder melhor enfrentar e acompanhar as transformações do mundo moderno. Apesar de ter um cancro inoperável no estômago, que foi diagnosticado em setembro de 1962, João XXIII quis continuar, com todas as suas débeis forças, a dirigir o Concílio Vaticano II.


Concílio Vaticano II, a decorrer no interior da Basílica de São Pedro (Vaticano).

A partir deste Concílio, que só terminou em 1965, a Igreja Católica, através da sua renovação, abriu-se mais ao mundo moderno. Por isso, houve várias mudanças significativas que João XXIII não conseguiu ver: uma grande reforma litúrgica (revisão e simplificação da Missa de rito romano); uma nova perspectiva sobre a liberdade religiosa, a natureza e constituição da Igreja, o apostolado dos leigos e a dignidade dos fiéis, a colegialidade dos bispos e a relação entre a Revelação divina e a Tradição; novos rumos para o ecumenismo e a pastoral católica; e uma nova abordagem aos problemas do Mundo moderno.

A centralização do poder no Vaticano, iniciada no final do século XIX, foi revista, sendo a Igreja vista como uma comunidade de cristãos em todo o mundo. O Concílio, todavia, não firmou dogmas, mas sim serviu de orientação pastoral à Igreja Católica, sendo seus efeitos vistos de forma controversa por alguns praticantes do catolicismo, nomeadamente pelos católicos tradicionalistas.

O discurso da Lua

Um dos discursos mais célebres do Papa João XXIII é o que hoje é conhecido como "o discurso da Lua". Na noite de 11 de outubro de 1962, data da abertura do Concílio Vaticano II, a Praça de São Pedro estava lotada de fiéis que, ainda que não compreendessem a fundo as mudanças teológicas e pastorais do acontecimento, percebiam a sua força histórica, seu caráter importante e as dificuldades que surgiriam. A multidão pedia pelo Papa e este partilhou com a multidão a sua satisfação pela abertura da primeira sessão do Concílio, que contou com a participação de 2540 prelados (ou padres conciliares) de todo o planeta, de várias centenas de peritos (ou consultores teológicos) e de várias dezenas de observadores ortodoxos e protestantes. Embora com a saúde já bastante debilitada pelo câncer no estômago, João XXIII fez questão de dirigir as cerimônias.

Naquele momento em que dava uma nova direção à Igreja Católica, João XXIII fez uma evocação à Lua: "Poderíamos dizer que até mesmo a Lua está com pressa esta noite... Observem-na, lá no alto, está a olhar para este espetáculo...". Cumprimentou os fiéis de sua diocese (o Papa é também o bispo de Roma) e prosseguiu o discurso: "A minha pessoa nada vale: é um irmão que fala para vocês, um irmão que virou pai por vontade de Nosso Senhor. Vamos continuar a querer bem um ao outro [...]. Voltando para casa, encontrarão as crianças. Deem a elas um carinho [(ou uma carícia)] e digam: "Este é o carinho do Papa." Talvez as encontreis com alguma lágrima por enxugar. Tende uma palavra de consolo para aqueles que sofrem. Saibam os aflitos que o Papa está com os seus filhos, sobretudo nas horas de tristeza e de amargura. E depois todos juntos vamos amar-nos uns aos outros, [...] sempre cheio de confiança em Cristo que nos ajuda e nos escuta [...]. Adeus, filhinhos. À bênção junto o desejo de uma boa noite".

Encíclicas

No seu curto pontificado de cinco anos, João XXIII escreveu oito encíclicas, que possuem um carácter mais pastoral do que dogmático:


As suas encíclicas mais conhecidas são, sem dúvida nenhuma, a Pacem in Terris e a Mater et Magistra, ambas fortemente relacionadas com a Doutrina Social da Igreja.

Morte, beatificação e canonização

Conhecido como o "Papa Bom", João XXIII faleceu de câncer no estômago, após longa luta contra tal enfermidade, no dia 3 de junho de 1963, não chegando por isso a encerrar o Concílio Vaticano II. Foi sucedido pelo Cardeal Giovanni Montini, que escolheu o nome papal de Paulo VI e que implementou as medidas e reformas do Concílio Vaticano II. Na época da sua morte, a revista "Time" constatou e comentou que poucos pontífices conseguiram entusiasmar o mundo como João XXIII o fez. Já durante o Concílio Vaticano II, o Cardeal Leo Joseph Suenens e vários prelados defenderam a canonização de João XXIII por aclamação conciliar, como se fazia antigamente na Igreja primitiva. Mas, esta proposta foi prontamente rejeitada por prelados mais conservadores e pela Congregação para as Causas dos Santos. Por isso, o seu processo de canonização foi só iniciado em 1965, em simultâneo com o processo do Papa Pio XII, ambos com a autorização de Paulo VI. O "Diário da Alma" de Roncalli contribuiu muito para a longa investigação orientada pela Congregação, porque neste livro está registado o seu desenvolvimento espiritual e o seu caminho de santificação. O Diário descreve vários métodos que João XXIII usou para vencer o pecado: como por exemplo, ele evitava ficar sozinho com mulheres bonitas. No seu Diário, ele também revelou a sua humildade e a sua simples mas profunda piedade, mantida desde criança e radicada na crescente confiança e obediência a Deus. No fundo, todos os seus escritos espirituais exprimem o seu grande amor a Cristo, à humanidade, à Igreja e ao Reino de Deus.

Em janeiro de 2000, a Santa Sé reconheceu oficialmente a veracidade da cura milagrosa da freira italiana Caterina Capitani de um tumor no estômago, por intercessão de João XXIII, em 1966. Com esse reconhecimento, ele foi declarado Beato pelo Papa João Paulo II no dia 3 de setembro de 2000, em cerimônia solene na Praça de São Pedro, juntamente com o Papa Pio IX. Sobre ele, o Papa João Paulo II afirmou:

João XXIII, o Papa que conquistou o mundo pela afabilidade dos seus modos, dos quais transparecia a singular bondade de ânimo. […] É conhecida a profunda veneração que o Papa João tinha pelo Papa Pio IX, do qual desejava a beatificação. Durante um retiro espiritual, em 1959, escrevia no seu Diário [da Alma]: "Penso sempre em Pio IX de santa e gloriosa memória, e imitando-o nos seus sacrifícios, desejaria ser digno de celebrar a sua canonização" […]. Do Papa João permanece na memória de todos a imagem de um rosto sorridente e de dois braços abertos num abraço ao mundo inteiro. Quantas pessoas foram conquistadas pela simplicidade do seu ânimo, conjugada com uma ampla experiência de homens e de coisas! A rajada de novidade dada por ele não se referia decerto à doutrina, mas ao modo de a expor; era novo o estilo de falar e de agir, era nova a carga de simpatia com que se dirigia às pessoas comuns e aos poderosos da terra. Foi com este espírito que proclamou o Concílio Vaticano II, com o qual iniciou uma nova página na história da Igreja: os cristãos sentiram-se chamados a anunciar o Evangelho com renovada coragem e com uma atenção mais vigilante aos "sinais" dos tempos. O Concílio foi deveras uma intuição profética deste idoso Pontífice que inaugurou, no meio de não poucas dificuldades, uma nova era de esperança para os cristãos e para a humanidade. Nos últimos momentos da sua existência terrena, ele confiou à Igreja o seu testamento: "O que tem mais valor na vida é Jesus Cristo bendito, a sua Santa Igreja, o seu Evangelho, a verdade e a bondade".

A sua festa litúrgica é celebrada no dia 11 de outubro, dia em que teve início a primeira sessão do Concílio Vaticano II. Ele é o patrono dos delegados pontifícios.

Fonte: Wikipédia


Tags: Papa, vaticano, igreja, catolicismo, Comunismo, excomunhão, Cuba, Fidel Castro






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