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24 de janeiro de 1980.

“Calabar - O Elogio da Traição”, peça de Chico Buarque e Rui Guerra é finalmente liberada pela censura brasileira


“Calabar - O Elogio da Traição” é o título da peça de teatro musicada, escrita em 1973 por Chico Buarque e Ruy Guerra, e editada em livro pela editora Civilização Brasileira.

Escrita em plena ditadura militar, é uma alegoria histórica que se passa na época das invasões holandesas em Pernambuco no século XVII. A peça retrata a questão da lealdade e da traição, numa óbvia alusão à realidade política do Brasil no período em que foi escrita.

A peça relativiza a posição de Domingos Fernandes Calabar no episódio histórico em que ele preferiu tomar partido ao lado dos holandeses contra a coroa portuguesa.

Vivia o Brasil sob a opressão do regime ditatorial militar, e era comum o uso das metáforas nas produções artísticas a fim de, por um lado, burlar a censura rigorosa do sistema e, por outro, denunciar a situação atual.

Chico Buarque foi um mestre no uso dessas figurações. O episódio histórico do traidor Calabar, comum em todos os livros didáticos como um dos maiores exemplos de perfídia, serviu de mote para justamente questionar a chamava versão oficial.

Na peça, Domingo Calabar passa de comerciante que visava o lucro e que, por isto, traíra os portugueses e colonos brasileiros, para um quase herói, que tinha por objetivo não o ganho pessoal, mas o melhor para o povo brasileiro (na verdade um conceito ainda inexistente, no século XVIII).

A intenção dos autores, porém, não era denunciar um erro histórico, nem tinha a pretensão de promover uma revisão. O alvo era, justamente, o próprio Regime militar, sua censura, os veículos de comunicação que, engessados pelas versões dos fatos sempre acordes com o sistema, passavam ao povo imagens que precisavam ser questionadas em sua veracidade.

Dentre as músicas que compõem o repertório da obra, algumas foram sucesso, como Não existe pecado ao sul do Equador (cantada por Ney Matogrosso); Cala a boca, Bárbara, e outras.

A censura do regime militar deveria aprovar e liberar a obra em um ensaio especialmente dedicado a isso. Depois de toda a montagem pronta e da primeira liberação do texto, veio a espera pela aprovação final. Foram três meses de expectativa e, em 20 de outubro de 1974, o general Antônio Bandeira, da Polícia Federal, sem motivo aparente, proibiu a peça, proibiu o nome Calabar do título e, como se não bastasse, ainda proibiu que a proibição fosse divulgada.

O prejuízo para os autores e para o ator Fernando Torres, produtores da montagem, foi enorme. Seis anos mais tarde, uma nova montagem estrearia, desta vez, liberada pela censura.

Tags: Ditadura, golpe de 64, teatro, censura






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